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Jules Verne

Era, pela certidão do baptismo, Jules Gabriel Verne [Nantes, 1828-Amiens, 1905]; e o seu pai, um magistrado de Nantes, desde os seus tempos de berço sonhava-o a brilhar na mesma profissão. Mas bastaram-lhe onze anos de vida e umas quantas e emocionantes leituras para fugir de casa levando consigo um desejo de mar e aventura (e a decisão, muito mais prática, de trazer um colar de coral para oferecer à sua prima Caroline, por quem estava apaixonado) tudo isto vivido — não mais lhe consentiria a idade — como grumete num barco-correio. Sobressaltado, M. Verne foi a tempo de capturá-lo em Paimbæuf, um pequeno porto do Loire-Atlântico. «Pois bem», prometeu a criança frustrada e ingloriamente retida nos seus altos voos, «só vou viajar em sonho». — Quem poderia prever que estas palavras, proferidas numa tão tenra idade, deviam ser tomadas à letra?

É verdade que Jules Verne, para satisfazer os desejos do seu pai chegou à Sorbonne e à licenciatura que poderia dar-lhe o sonhado futuro como magistrado; mas sobrepôs-se a toda esta sabedoria em Direito uma irresistível fascinação literária. De regresso a Nantes, e frustrado por ver a mulher que amava casada com outro homem, voltou para a capital. Parto porque fui desprezado, escreveu numa carta ao músico Aristide Heignard, mas todos verão de que matéria é feito o pobre rapaz a que chamam Jules Verne.

[...] Esteve em Lisboa por duas vezes, em 1878 e em 1884.

A idade mais avançada deu-lhe diabetes, má visão e uma perna coxa que nunca se recompôs de um tiro de espingarda, saído em má hora das mãos de um sobrinho louco. Começou a escrever menos, e até a não escrever. Na minha idade as palavras fogem e as ideias já não entram, pode ler-se numa carta sua.

Morreu em 1905, derrotado por diabetes e cegueira.

O século XX fez dele um clássico; tirou algumas das suas obras da esfera adolescente para acompanhar a de grandes clássicos centrais. Michel Butor é peremptório: «Temos de colocar a sua obra nos grandes conjuntos de romances do século XIX.» E Roland Barthes dedicou-lhe todo um capítulo do seu Mythologies, onde compreende o lado-cárcere dos seus grandes espaços: «A imaginação da viagem corresponde em Verne a uma exploração da clausura. […] O barco pode muito bem ser o símbolo da partida; mas é profundamente a cifra da clausura.» […] «O navio é um facto habitacional, antes de ser um meio de transporte.»

Nenhum outro dos seus livros leva mais à letra estas palavras do que o seu Chancellor.

[Aníbal Fernandes]

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