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Ramón del Valle-Inclán

Era galego; nascido, segundo dados biográficos mais seguros, em 1866 na velha casa «El Cantillo» de Villanueva de Arosa (embora costumasse afirmar, com imaginação à solta, que tinha nascido num barco). E chamava-se Ramón José Simón del Valle y Peña, antes de descobrir que um hífen a anteceder um inventado Inclán lhe daria uma sonoridade aristocrática, favorável às pretensões de quem se queria com destaque nas letras do seu país.

Tinha sido um señorito del pueblo mimado, vigiado e bem vestido, com uma inteligência precoce que suscitava boas expectativas, mas sem conseguir passar de «assim-assim» num liceu de Pontevedra e capaz de se arrastar apenas por três anos nos estudos de Direito em Santiago de Compostela; que hostilizou desde muito cedo a compostura familiar, as conservadoras mentalidades da sua Galiza e travou uma luta sem quartéis para se impor ao arrepio de tudo quanto o rodeava, muito solto na fantasia e na decisão de cultivar uma provocatória extravagância física; que em tertúlias de cafés — com ele já no fim da adolescência — começou a inventar-se e a desdobrar-se, palavroso, pelos meandros de uma autobiografia dia a dia falada e cada vez mais empolgante nas suas improváveis aventuras, cheia de histórias pensadas para desbanalizar o que em si existia de mais comezinho.

[...]

Tinha, de facto, barba e cabeleira românticas que enfeitavam com êxito a boémia literária da cidade. Uma exuberância que também fê-lo ver-se como actor de teatro e chegou mesmo a fazê-lo declamar textos dramáticos com ênfase e gestos incómodos para os seus parceiros de palco. Em 1892, já desiludido com Madrid mas seduzido por um México que talvez desse resposta aos seus desejos de vida aventureira, atravessou o oceano. E esteve nesse lado de lá um ano, ao que parece com poucas aventuras mas a escrever artigos para jornais de espanha e também, ao que se julga, a fazer traduções de textos italianos e franceses.

[…]

Chegou depois a época em que pareceu mais contido. Foi eleito deputado e defendeu a Corunha nas listas do Partido Republicano Liberal. Nomearam-no director do novo Museu de Aranjuez e também presidente do Ateneu Científico, Literário e Artístico de Madrid; em 1933 organizou o Congresso da Associação de Escritores e Artistas Revolucionários e esteve entre os que fundaram a Associação de Amigos da União soviética; uma intensa campanha de apoios fê-lo director da Academia Espanhola de Belas Artes de Roma.

Numa itália de alguns meses, acompanhado por três filhos, pouco se rendeu aos benefícios da honra que o afastava de Espanha. Em 1934, o seu regresso foi melancólico; Josefina Tejerina, a sua mulher, já se tinha divorciado e posto fim ao convívio marital com um «revolucionário» de atitudes e posições políticas incompatíveis com os seus princípios de mulher burguesa e de boas famílias. Valle-inclán, com um bastante comprometido estado físico sentiu-se vítima de uma pitoresca falta de meios de subsistência e viu-se na contingência de ser internado num sanatório de Santiago de Compostela. São de 1936 o seu coma rápido (devido a um cancro na bexiga) e a morte depois de recusar, com uma derradeira porém fraca veemência de gestos e palavras, o conforto de um ofício religioso.

[Aníbal Fernandes, Apresentação de Tirano Banderas]

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