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Almeida Faria

Cursou Direito e Letras na Universidade de Lisboa, vindo a licenciar-se em Filosofia. Entre 1968 e 1969, estagiou como bolseiro nos Estados Unidos e na Alemanha Federal. Leccionou Estética e Filosofia da Arte na Universidade Nova de Lisboa. Traduziu Enzensberger; a sua obra encontra-se traduzida em várias línguas. Foi o primeiro presidente do PEN Clube Português. Com apenas 19 anos, em 1962, publicou o romance Rumor Branco, Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores, uma obra pioneira face a um movimento de profunda renovação desenvolvido na novelística contemporânea portuguesa entre os anos 60 e 70. Entre 1965 e 1983 redigiu o ciclo «Trilogia Lusitana» (A Paixão, Cortes, Lusitânia), encerrado com Cavaleiro Andante, «um ciclo de reflexão sobre a situação do homem português perante o seu contexto social e a incidência política que o determina (o fascismo, a revolução...) e sobre a sua capacidade (ou, talvez melhor, incapacidade) de se definir na sua totalidade humana (pessoal, familiar, erótica, ambiencial), em registos de comunicação que transcendem o puramente ficcional (lírico e epistolar), assim modulado numa estrutura que coloca em situação de relevo a personagem, agente ou paciente da História que aqui fundamentalmente se encontra em questão» (Maria Alzira Seixo, Portugal, a Terra e o Homem, II série, Lisboa, FCG, 1980, p. 427). Optando por uma estratégia construtiva em que cada capítulo funciona como «uma unidade textual em termos de semântica (um nome próprio inicia cada um deles, subsequentemente desdobrando-se em processos de definição e de referência, assumindo veredas da história e postulando visões ideológicas particularizadas) e de sintaxe (não só pela comunicação de ideoletos diversificados como pelas mutações discursivas [...] que imprimem à sequência narrativa o seu desvio, a sua mutação, a sua quebra)» (Maria Alzira Seixo, A Palavra do Romance, Lisboa, Horizonte, p. 193), o ciclo de romances iniciado com A Paixão impõe ao leitor um papel activo na reconstituição de uma realidade fragmentada e a que só pode aceder pelo confronto dos vários pontos de vista que cada personagem parcialmente constrói. Conseguindo uma fabulosa intersecção entre a subjectividade (o onirismo, a visão individualizada do mundo) e a perspectiva socioeconómica em cuja dialéctica a acção do indivíduo se inscreve, esta sequência apresenta-se como registo íntimo de um período histórico, onde, para além da factualidade (sublevação da massa dos servos alentejanos, eclodir da revolução), avoluma a impressão de um encerramento de cada personagem sobre si mesma, que nem a abertura, em Lusitânia e Cavaleiro Andante, à comunicabilidade pelo registo epistolar conseguiu atenuar: «cada um dos personagens [...] apesar de religado aos outros pelos laços de paixão ou do sangue, destila as suas mensagens de solitude na esperança de que o outro as receba e as traduza na sua própria língua de solitária aflição.» (Eduardo Lourenço, «Cavaleiro Andante: Busca de Sinais no Labirinto da Morte», in O Canto do Signo, Lisboa, Presença, 1994, p. 239). Acresce ainda, na abordagem do estilo de Almeida Faria, a opção lúdica e lírica por uma «sintaxe narrativa de coordenação e quase abolição dos limites frásicos que serve a expressão do fluxo da consciência ao mesmo tempo que, muito principalmente, acentua o valor da palavra como conceito e como significante numa elaboração sintagmática que desnivela as habituais hierarquias da narração» (Maria Alxzira Seixo, Portugal, a Terra e o Homem, II série, Lisboa, FCG, 1980, p. 427). Na verdade, se a matéria da ficção releva em grande medida do gozo de «pôr os mitos nacionais de pernas para o ar», desrespeitar os delírios da «Portugalidade» (entrevista, in Letras & Letras, n.º 75, Julho de 1992), a matéria linguística revela o gozo de, parodiando o autor, desrespeitar os delírios da literariedade, submetendo a escrita narrativa a uma proliferação verbal incontida e criativa que, através de processos de polissemia, de desconstrução de aforismos, de sequências aliterantes, de reprodução de ideoletos, entre outros, promove a autonomia da linguagem a força primordial na remodelação da estrutura narrativa.

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