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Georges Bernanos

«Georges Bernanos [n. Paris, 20 de Fevereiro de 1888] foi um parisiense de infância protegida pelas larguezas de uma bem instalada família burguesa; e muito cedo dominado por uma profunda angústia. Ele próprio escreveu: Desde há muito — por causa da minha mocidade cheia de doenças e precauções que eu era obrigado a ter — sinto medo da morte; e por desgraça (o meu anjo da guarda talvez dissesse «por sorte») continuo a temê-la. A mais pequena indisposição parece-me o prelúdio da derradeira doença que tanto medo me causa. São melancolias sem fim, para as quais só tive durante muito tempo um remédio: atordoar-me.

Bernanos, duplamente licenciado em letras e direito, teve uma vida estudantil pouco brilhante nos êxitos e com percalços disciplinares; mais significativo o que lhe valeu em 1909 uns dias de prisão por ter desestabilizado uma aula da Sorbonne vociferando contra o professor que branqueava a Igreja, distorcendo o que tinha sido o seu nefasto papel durante o processo de Joana d’Arc. (Note-se que a sua admiração por esta guerreira com sopros divinos e odores campestres fez-lhe escrever mais tarde «Jeanne relapse et sainte» e talvez não tenha estado ausente na escolha da mulher com quem se casou em 1917, uma Jeanne Talbert d’Arc, garantida descendente desta visionária belicista.)

Com uma invencível indiferença pelas facilidades materiais que podiam chegar-lhe da formação académica, resolveu reduzir-se a modesto angariador de seguros para a companhia La Nationale. Talvez pudesse dedicar-se assim, com o tempo livre que esta ocupação lhe dava, à intervenção política que a sua filiação nas fileiras monárquicas dos Camelots du roi o incitava a apoiar, e talvez pudesse mostrar-se à França e ao mundo — sua ambição máxima — como escritor.

Tudo isto ele cumpriu, mas sob o peso que a educação e o sustento de seis filhos — frutos da irreprimível fertilidade daquela esposa descendente de Joana d’Arc — faziam cair sobre o seu orçamento familiar. Em 1926, com vinte e oito anos de idade, mostrou- se ao público como autor de Sous le soleil de Satan saudado como acontecimento literário, assinalável êxito num público que lia com espanto a tenebrosa história da mística Mouchette conquistada pelo vício, e de um padre-carrasco ascético e furioso lutador contra o Mal; um público que atravessava aquela trama de invulgar violência sem se deixar abater pela construção literária deliberadamente caótica que melhor servia o seu propósito, admitamos, mas toda ao contrário dos hábitos do leitor comum.

[…]

A morte de Bernanos, [Neuilly-sur-Seine] a 5 de Julho de 1948, espalhou na imprensa um assinalável número de artigos, memórias e estudos críticos que o tiverem como tema. Era um grande escritor francês dessa primeira metade do século XX; deixava na literatura a sua marca ligada a um invulgar êxito formal e a uma atitude de católico pouco adaptada às correntes centrais da sua religião. Também era um homem que seduzia, também era um homem que parecia não encontrar um lugar cómodo para viver a sua época.

[Aníbal Fernandes, «Apresentação», Diálogos das Carmelitas]

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