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Emilia Pardo Bazán

Era filha única do advogado José Pardo Bazán y Mosquera Rivera, que deu um forte apoio parlamentar ao reconhecimento do catolicismo como religião do Estado Espanhol. Agradecido por estas bem sucedidas diligências, o papa Pio IX enviou de Roma uma carta onde sugeria que lhe fosse concedido o título de conde; o rei Amadeo de Saboia (El Rey Caballero) concordou, e este conde-advogado com residência mais assídua na rua Tabernas da Corunha, mas com outras que lhe davam alternativas em Sangenjo e no Pazo de Meirás, passou a ter solicitações políticas que o faziam descer da Galiza e frequentar quase todo o ano a corte de Madrid.

Emilia, a sua filha, muitos anos depois também viria a ser condessa — desta vez por graça do rei Afonso XIII; e pôde assim, nos seus últimos treze anos de vida, acrescentar uma nobreza heráldica aos seus prestígios de escritora e figura pública com um nome resumido a três palavras mas que simplificava outro — o nome-ladainha do seu baptismo — aquele que nos dá direito a perda de fôlego e a algum espanto: Emilia Antonia Socorro Josefa Amalia Vicenta Eufemia Pardo Bazán y de la Rúa-Figueroa Somoza.

Esta Emilia, com nome a perder de vista, teve uma infância protegida e folgada numa Corunha que as suas ficções literárias viriam a chamar Marineda. Teve preceptores que a defenderam indesejáveis convivências populares, impossíveis de afastar numa escola pública. E lia muito. Diz-se que fez versos aos nove anos; diz-se que aos quinze escreveu o primeiro conto. E diz-se que ela, para se demarcar do que parecia então inevitável, recusou a banalidade das lições de piano e das aulas de música, nesses anos a infalível prenda das raparigas bem nascidas.

[…]

Em 1886, esta autora de «histórias impróprias numa mulher saída de um tão honrado extracto social», e a quem chegaram a chamar puta, marimacho, gorda y fea — embora houvesse outros que já a reconheciam como um dos grandes escritores da literatura espanhola — chegou a atrever-se ao romance Los Pazos de Ulloa, que não hesitava em passear por amores incestuosos (é verdade que praticados com o desconhecimento do parentesco que os amaldiçoava), e que as bibliotecas públicas foram proibidas de ter à disposição dos seus leitores, por se deter de forma tão intolerável sobre a nobreza degradada, sobre a decadência do mundo rural galego. (Note-se que uma das explicações centrais desta decadência galega é por ela argumentada de um modo pouco usual entre os espanhóis: É claro que no atraso da Galiza há um problema histórico relevante, que vai deixar uma profunda pegada. Depois da sua amputação de Portugal, a Galiza fica como membro destroncado, sem vida própria. Quando Portugal se eleva e domina o Oceano […], a Galiza anula-se. Enquanto a irmã do Além-Minho se veste de brocado e ouro, a do Aquém solta entristecida o seu velho alaúde, retira-se para a montanha, calça tamancos de pastora; e só quando a tarde morre e recolhe os seus gados, entoa uma qualquer copla rústica.)

[…]

No dia 12 de Maio de 1921 morreu. Nessa manhã tinha começado a escrever mais uma novela: La Esfinge.

[Aníbal Fernandes, «Apresentação», Contos Bravios]

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