0,00€
A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z
Torcato Sepúlveda

Torcato Sepúlveda (Braga, 27/2/1951-21/5/2008) frequentou o Liceu Nacional Sá de Miranda, na altura chamado Nacional de Braga, entre 1961 e 1968. Seguiu para a Universidade de Coimbra no ano de 1968, onde se matriculou em Filologia Românica, acabando por acompanhar de perto as peripécias da crise estudantil de 1969. Fez parte de o grupo de estudantes que, à saída da famosa sessão da sala das Matemáticas, apalpou o traseiro ao venerando Chefe de Estado, o Almirante Américo Tomás. Foi na escola desta crise que cimentou a sua formação política, nunca assumindo como seus os valores da esquerda então dominante — o frentismo pró-PC da chamada Oposição Democrática mais ou menos enfeudada ao estalinismo e à corrente literária do neo-realismo.

Começou por ser atraído pelo esquerdismo leninista presente na revolução russa — o trotskismo. Chegou até ele caminhando pela estrada do surrealismo. Autores como Mário Cesariny de Vasconcellos, António Maria Lisboa, Luiz Pacheco ou Mário Henrique Leiria interessavam-no, tal como os surrealistas estrangeiros. Mas havia algo que o enervava fortemente. Para ele o surrealismo representava muito mais do que uma corrente literária, era uma forma de vida. Merecia, para sua defesa, que se fizesse um combate irreverentemente surrealista. Quem ousasse integrar o surrealismo numa sociedade que devia ser destruída, congregaria as iras das forças transformadoras. A este propósito talvez tenha sido importante para o percurso de vida do jovem estudante um episódio passado em Coimbra, com o escritor francês Julien Gracq, outrora simpatizante surrealista que estivera ligado ao PCF no tempo da Frente Popular. Tendo passado por Coimbra no ano de 1971 para a realização de uma conferência literária, Gracq viu a sua brilhante sessão confrontada por um grupo de situacionistas, sem pejo em recorrer ao insulto. O receio das perseguições que começaram então a desenhar-se e a vontade de encontrar um local de vida menos asfixiante, onde o cutelo da guerra colonial estivesse ausente, levou os membros daquele grupo à emigração. Dirigiram-se para Paris onde completaram a sua irreverência despejando um balde de merda em cima do Sr. Julien Gracq, sem lhe darem qualquer hipótese de resistência. Tocaram à sua porta e quando ele a abriu despejaram-lhe o conteúdo em cima.

Foi no exílio que conheceu Guy Debord, um dos pensadores do Internacional Situacionismo, tendo feito a revisão de A Sociedade do Espectáculo, livro traduzido para a língua portuguesa em Paris.

Regressou a Portugal logo após a revolução de Abril encontrando trabalho no Serviço de Estrangeiros. A sua função era a de receber os emigrantes, sensibilizando-os para a nova realidade política que nascia. Mas a adesão aos novos tempos não lhe fez perder o sentido da realidade. A situação económica portuguesa não era brilhante. O vencimento dos funcionários, pelo menos os daquele Departamento, nem sempre era pago atempadamente. Não contemporizando com aquela situação, até porque precisava do ordenado para a sobrevivência, acabaria por declarar aos seus superiores que se não tinham dinheiro ele aceitava receber em espécie, do tipo batatas ou outras hortaliças. Antes de nos anos oitenta ter optado pelo jornalismo, tendo passado por jornais como o Expresso, Público e Grande Reportagem, traduziu vários livros para a Editora Antígona, destacando-se Os Tomates Enlatados, de Benjamin Péret.

O jornalista foi também co-autor do guião do filme de Vicente Jorge Silva, numa parceria com o poeta e guionista italiano Tonino Guerra.

ARTIGOS RELACIONADOS
RECEBA AS NOVIDADES!
SUBSCREVA A NEWSLETTER E ESTEJA SEMPRE A PAR DE NOVIDADES E PROMOÇÕES
REDES SOCIAIS
© 2014. Sistema Solar. Todos os Direitos são reservados - Política de Privacidade | Livro de Reclamações Digital
design bin?rio