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Vicente Huidobro

Foi em 1893 e na cidade de Santiago que ele nasceu, mas pouco ou nada se lhe nota dos prestígios bancários e das raízes agrárias da sua família. Com pouco Chile na cabeça, bem cedo se deixou entusiasmar pelo mundo. Ali ao pé havia a mais europeia Buenos Aires, para onde Huidobro bem cedo começou a fugir do seu Chile, imensa língua de terra entalada entre os Andes e o mar, onde já havia uma Gabriela Mistral quatro anos mais velha do que ele e a fazer versos, mas ainda longe de poder impressioná-lo com os Sonetos de la Muerte e com Desolación; onde o menino Pablo Neruda, onze anos mais novo, precisaria de mais uns tantos para chegar aos seus Veinte poemas de amor y una canción desesperada; onde José Donoso só começaria a existir em 1924; onde Roberto Bolaño esperaria por 1953 para chegar à luz dos seus dias…

Vicente Huidobro pertencia à pije ou ao pituco (a alta classe chilena apontada com estas palavras na linguagem popular do seu país); tinha consigo o prestígio sanguíneo da Casa Real de la Moneda do Chile e posses para fazer viagens na Europa; para frequentar com comodidade Madrid e sobretudo aquele Paris que o dominou e fez escrever em francês um terço da sua obra literária.

[…]

Em 1931 passou a ser autor do famoso poema Altazor, que começa por este anúncio: Nasci com trinta e três anos, no dia da morte do Cristo; nasci no Equinócio, por baixo das hortências e dos aeroplanos do calor… Altazor fez de Huidobro um reconhecido poeta chileno; e o seu papel, como director de polémicos jornais, continuou também a mostrá-lo como incansável activista político.

Foi nesta última fase literária que Huidobro intercalou na bem alimentada prestação poética seis ficções em prosa — três publicadas em 1934: Cagliostro; La próxima (Historia que pasó en un tiempo más); Papá o El Diario de Alicia Mit; — em 1939 Sátiro o El Poder de las Palabras; em 1935 Tres Inmensas Novelas (estas em colaboração com o dadaísta Hans Arp) e em 1929 o romance chamado Mio Cid Campeador.

A sua actividade literária, muito de vento em popa, foi enfraquecida pela Segunda Guerra Mundial; o poeta esmoreceu a favor de outro Huidobro, o jornalista chileno que se fez correspondente de guerra em Paris.

A paz de 1945 devolveu-o ao Chile; deu-lhe a direcção de mais uma revista que se chamou Actual, e levou-o a um segundo divórcio que teve como principal motivo o seu relacionamento amoroso com Raquel Señoret Guevara, trinta anos mais nova do que ele.

Em tudo isto Huidobro mostrava uma intensa actividade física e intelectual que não lhe prenunciava o inesperado fim: — em 2 de Janeiro de 1948, aos cinquenta e cinco anos de idade, quando não pôde resistir às consequências de um derrame cerebral. Foi enterrado em Cartagena, Valparaiso; e, de acordo com a sua vontade, num túmulo onde «pudesse ouvir-se o ruído do mar».

Vicente Huidobro foi um poeta insatisfeito com a sua poesia; depois de tudo o que escreveu, de o celebrarem por Altazor, pela elasticidade de Equatorial, pela graça dos Poemas árticos, pelo vigor de Tout à coup, pelo «aceso claro-escuro» de El ciudadano del olvido, viu-se nesta frase melancólica: — Um poema é uma coisa que nunca é, mas que devia ser.

[Aníbal Fernandes, «Apresentação», Cagliostro, Sistema Solar, 2021]

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