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Victor Segalen

Literariamente marginalizado em vida, Victor Segalen tem agora uma boa reputação póstuma com direito ao inquérito que apenas consegue dar realce, numa biografia neutra, à mãe autoritária, à miopia forte e à morte singular. Mal damos por ele nas suas viagens de fim de mundo, vinte e cinco anos depois de nascido em Brest, 1878, quando seis planetas em signos de terra lhe concertam no céu astrológico um «horror ao mar» que passa a ironia maior na sua carreira da Marinha. E sendo ironia, por certo vai também ser privilégio do médico de bordo todo literato e entregue aos seus livros do Deferente (lembremos aqui Os Imemoriais sobre os Maoris; os poemas chineses de Stèles; os poemas de Thibet; o romance — à falta de melhor palavra Equipée…), ou seja, entregue aos seus livros de homem das lonjuras que vê o mundo e diz sempre por escrito as suas visões assombradas quase sempre por um «Real-Limite» a todo o passo tocado pela fluidez do Imaginário. Subitamente esvaído, Victor Segalen regressa à Europa: ainda vai ser amigo de Gourmont, Debussy e Huysmans antes de preparar a morte prematura, doente não se sabe nunca de quê. «Fui cobardemente traído pelo meu corpo!» — queixume numa carta dos últimos dias a Jean Lartigue — «De há muito este corpo me incomodava mas lá ia obedecendo, razão de eu ter podido arrastá-lo a corrupios vários que não eram, na aparência, feitos para ele […] Sífilis: zero; tuberculose: zero; anemia: zero; paludismo: zero. […] Não tenho nenhuma doença conhecida, apanhada, verificável, e assim mesmo tudo é como andar gravemente afectado. Já não me peso; não quero saber de remédios; só vejo, muito simplesmente, a vida afastar-se de mim.» Solitário, em Maio de 1919 hospeda-se num albergue da Finisterra, na floresta de Huelgoat que é centro mítico do Ciclo do Rei Artur, e manhã mal nascida sai de aparente passeio para morrer debaixo de uma árvore com o Hamlet aberto numa cena do III Acto.  

[Aníbal Fernandes, na introdução de A Cidade Proibida]

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