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Joséphin Péladan

Chamava-se Joseph-Aimé Péladan [1858-1918], mas surgia na literatura e no jornalismo com o seu nome ligeiramente alterado para Joséphin Péladan; gostava, no entanto, que o tratassem por Sâr Mérodack, com os mais cultos a não ignorarem que Mérodack era um nome que tinha soado na alta esfera da velha Babilónia, e Sâr significava nada menos do que «rei» na língua assíria.

Toda esta pretensão chegava-lhe, sem antecedentes conhecidos, de uma honrada família de comerciantes e lavradores das margens do Ródano; e era filho de um Péladan que se afastara da tradição familiar para ser jornalista (jornalista no muito conservador La France littéraire).

[…]

Apesar dos cuidados em não se meter em sarilhos judiciais, a sua pena corrosiva no jornal La France causou-lhe em 1891 um sobressalto. Acusou Léon Bloy e Louise Read de terem deixado morrer o escritor Barbey d’Aurevilly sem a absolvição de um padre, pedida pelo moribundo. Isto foi considerado pelos valores do tempo uma afirmação grave, e foi por ela condenado em tribunal.

Péladan já era nesses dias um rosacruciano. Em 1888 tinha fundado, com Stanislas de Guaïta, a cabalística Ordem da Rosa-Cruz. No entanto, três anos depois abandonava-a para fundar, mais solitariamente, a Ordem da Rosa-Cruz Católica e Estética do Templo de Graal. Este nome, que parecia não conter promessas de nenhuma significativa actividade cultural, fez uma granden quantidade de intelectuais acorrer à sua chamada. Houve no seu templo exposições de pintores e escultores que chegaram a sessenta. E apesar do Rosa-Cruz Católica do nome, apesar das ironizadas extravagâncias de Péladan, este lugar dominado pelo Graal soube atrair Mallarmé, Zola, Verlaine, Gustave Moreau, entre outros, recebidos ao som de composições de Erik Satie e do prelúdio do Parsifal de Richard Wagner. (Ele considerava Wagner, com as suas óperas mitológicas, uma boa «terapêutica para desintoxicar a França do seu materialismo».)

[…]

O Péladan decaído e esquecido, dos seus últimos anos, em 6 de Julho de 1918 (em L’Europe nouvelle) teve de Apollinaire estas palavras para exprimirem uma verdade que ainda hoje conhecemos: «Os jornais foram unânimes a dar a notícia da morte de Joséphin Péladan, e concluíram que não lhe foi concedido o lugar que ele merecia. Mas quando fazem o autor de Le Vice suprême responsável por esta injustiça, estão a rir-se de nós… Os culpados são os senhores da imprensa, que não procuram nem encorajam o talento, limitando-se a fazê-lo aos que têm uma determinada forma do saber-fazer. Temem acima de tudo espantar os seus leitores; e os autores com ideias novas ou que fazem, pelo menos, um corte com as da multidão, são seus inimigos. Mas a injustiça é tão flagrante, que nem a eles próprios escapa. Até chegam, depois da morte da vítima, a consentir que o reconhecem. Remy de Gourmont foi chorado pelos seus carrascos e Joséphin Péladan está a ser celebrado pelos seus torcionários.»

[Aníbal Fernandes, «Apresentação», Do Andrógino — Teoria Plástica]

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