A água
cenário para uma intimidade de homens
língua vigiada pela indevassável floresta
força para um combate difícil.
Juntam-se neste livro três textos dominados pelo elemento aquático, correspondendo cada um deles a uma forma específica, reconhecível como característica no relacionamento literário de Joseph Conrad com água: – a água não mais do que cenário a rodear o navio, e a fazer dele uma ilha onde prevalece uma intimidade de homens com leis próprias, distante do mundo dirigido pelas leis da terra («O Parceiro Secreto»); o mar força hostil, que pede ao marinheiro a sua luta e tudo faz para não ser vencido num combate fácil («Mocidade»); entre estes dois a estreita língua de água de um rio, de um lago ou de uma laguna onde o homem sente próxima de si uma presença de terra, sem conseguir mais do que imaginá-la atrás de um mistério de espessas cortinas, as do seu indomável esplendor vegetal («A Laguna»).
Aníbal Fernandes
«Devia haver no ar um brilho que nos dificultava a visão, porque o meu olhar errante só no momento em que o sol nos deixou descobriu qualquer coisa para lá da mais alta crista da ilhota principal do grupo, que pôs longe a solenidade de uma perfeita solidão. A maré de trevas rebentava com destreza; e um enxame de estrelas surgiu com rapidez tropical acima da terra escurecida, o que me fez retardar ali um pouco com a mão pousada ao de leve na balaustrada do meu navio, como no ombro de um amigo de confiança. Mas ao sentirmos toda a multidão de corpos celestes a olhar lá de cima para nós, ficava afastada de vez a sensação de conforto dessa apaziguadora comunhão.»
Joseph Conrad