Eu e o mundo alimentamo-nos mutuamente… […] Está tudo ao meu alcance, ao alcance da vontade, ao alcance do desejo de devorar. Só se ama, só se vive devorando o corpo amado. Neste caso, o «corpo amado» é o mundo inteiro.
Cabrita Reis: A voragem do mundo. Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro insere-se na colecção Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar e dá seguimento ao projecto de entrevistas que se iniciou com Júlio Pomar: O Artista fala… [2014], continuou com Rui Chafes: Sob a pele [2015] e teve seguimento com Julião Sarmento: O Artista como ele é [2016].
As entrevistas são feitas por ocasião do programa de exposições do Atelier-Museu, que cruza a obra do pintor com artistas convidados, mostrando novas relações daquele com a contemporaneidade.
Periodicamente, durante a investigação, as conversas vão acontecendo, ora no atelier do artista, ora no museu, gerando-se um corpo de diálogos espaçados no tempo, que poderá servir para o leitor acompanhar e desvendar o processo de preparação da exposição, desde a sua concepção até às opções de montagem e materialização.
De realçar que o projecto de exposição «Das Pequenas Coisas» foi construído passo a passo com Cabrita Reis, concorrendo estas conversas para definir as obras que entraram na exposição, o conceito a elas inerente, a forma de as apresentar no espaço, o título da exposição e as publicações. Desse modo, as conversas e períodos de investigação desenvolvidos com o artista revelaram-se fundamentais para a exposição que se centrou (por sugestão do próprio Cabrita Reis) nas assemblages de Júlio Pomar (realizadas sobretudo nas décadas de 1960 e 1970) e num conjunto de peças relativamente pequenas de Cabrita Reis, intimamente relacionadas com momentos da sua vida privada. Na verdade, através das conversas, veio a perceber-se que, embora não esteja explícito na materialização da obra, cada peça conta uma história e um episódio de vida.
[Sara Antónia Matos]