Sophia de Mello Breyner Andresen: «Talvez eu vá ficando igual à almadilha da qual os pescadores dizem ser apenas água.»
A voz de Sophia de Mello Breyner Andresen é uma das mais límpidas da poesia de língua portuguesa. Desde o seu primeiro livro, Poesia (1944), Sophia mostrou uma pertinaz paixão para a busca de uma linguagem capaz de recuperar a íntima e primordial potência das coisas e da palavra que a possa nomear. A sua busca formal indaga o real na tentativa de pôr a nu aquela espécie de núcleo da essência que vive na integridade primitiva das coisas. […] para Sophia a poesia, que ela própria definiu «a minha explicação com o universo», faz-se instrumento de busca ontológica: através da palavra ela pode definir e conhecer as coisas e clarificar a sua relação com elas. Através da palavra, que se quer exacta, essa relação que tem como fundamento o rigor e a intransigência formal, liga-se à verdade e, clarificando e tornando nítido o eixo principal da existência na relação do homem com o mundo, contribui também para a explicação da relação do homem com o homem. […]
[Federico Bertolazzi]