A memória daqueles dias luminosos permanece envolta num halo capaz de resistir a todas as tristezas e traições do esquecimento. [Almeida Faria]
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Lourdes Castro – Manuel Zimbro: Quinta do Monte 1983-1988», realizada na Fundação Carmona e Costa, com curadoria de Paulo Pires do Vale, entre 1 de Outubro e 9 de Novembro de 2019.
Em 1983, Lourdes Castro e Manuel Zimbro deixaram Paris e regressaram a Portugal, à ilha da Madeira, onde a artista nasceu. No dia 21 de Abril desse ano, mudaram-se, então, para a Quinta do Monte, um palacete do início do século XIX, emprestado pela família Rocha Machado para aí residirem enquanto procuravam o lugar onde iriam construir a sua casa. Nesta exposição, concentramo-nos nos cinco anos vividos nessa Quinta, onde Lourdes Castro faz ou projecta as suas últimas obras, dando atenção às sombras do jardim e das suas flores, da casa e dos seus objectos. O nosso ponto de partida foi o Álbum da Quinta do Monte, nunca exposto, onde Lourdes Castro manifesta a prática de recolha recorrente em muitos dos seus livros de artistas, misturando a sua vida, durante a estada naquela Quinta, com a dos anteriores habitantes, cruzando referências e coleccionando indícios. Recolhe fotografias da casa, dos interiores, dos jardins, da vida quotidiana do casal; guarda fotocópias de livros sobre a história da Quinta e das famílias que a habitaram; acumula recortes com notícias relacionadas com o exílio do Imperador austro-húngaro, Carlos de Áustria, que aí morreu em 1922, e os relatos das conversas com os visitantes estrangeiros que iam visitar a última morada do Imperador. Lourdes Castro é uma artista-colectora, uma respigadora incansável, desenvolvendo um trabalho que se situa entre o diário, a investigação e o arquivo. No dia 23 de Maio de 1988, Lourdes Castro e Manuel Zimbro mudaram- se para a casa que construíram no Caniço. Aí continuaram a sua história, iniciaram um novo Álbum.
[Paulo Pires do Vale]
A leveza dos verões do passado tinge-os de tons de nostalgia. Uma vaga tranquilidade invade-nos ao ver as fotografias do verão em que tomávamos o pequeno almoço com Lourdes Castro e Manuel Zimbro na Quinta do Monte, sentados em volta da mesa posta no meio de um prado rodeado de altas árvores. Sentíamos que aquele momento estava certo, que tudo no mundo estava ligado, que até o bolo em cima da mesa evocava os bolos pintados por velhos mestres em quadros florentinos ou venezianos.
[Almeida Faria]