José A. Palma Caetano: «Escrever é, pois, para Bernhard reflectir, reflectir sobre si próprio e sobre os outros, sobre tudo aquilo que observa. E Bernhard era um observador nato, ao qual nada escapava, e ao mesmo tempo um pensador, para o qual o pensamento filosófico ou"filosofante" tinha uma importância fundamental (veja- se neste livro o que o narrador diz sobre o actor do Burg a propósito desta questão). Ler Thomas Bernhard é, portanto, também reflectir, ou melhor, é principalmente reflectir, pois sem isso não há leitura possível deste autor.»
O carácter mais ou menos autobiográfico da obra narrativa de Thomas Bernhard verifica-se também em Derrubar Árvores (1984), mas com este romance passou-se algo de extraordinário, que atingiu as proporções de um enorme escândalo: o compositor Gerhard Lampersberg reconheceu-se na figura de Auersberger e, sentindo-se ofendido na sua dignidade, apresentou uma queixa que levou a que o livro, quando acabava de ser distribuído pelas livrarias, fosse apreendido por ordem do tribunal e o autor citado a comparecer em juízo. Profundamente indignado e revoltado, Thomas Bernhard proibiu a distribuição dos seus livros na Áustria durante todo o período de duração dos direitos de autor. No entanto, um dia antes do julgamento aprazado, Lampersberg retirou a queixa e o assunto foi encerrado, tendo Bernhard retirado igualmente a proibição da venda dos seus livros no país. Mas, como é sabido, o autor voltou a repetir essa proibição no seu testamento, aliás bastante agravada, pois se tratou nesse caso tanto da publicação de todas as suas obras, como também da representação das suas peças.
[José A. Palma Caetano]