Henry Miller: «É uma “leitura de entrelinhas” de primeira ordem. O verdadeiro e essencial relato foi exumado e transmitido com liberdade poética. Como um farol poderoso, derrama a sua luz sobre esta confusão sangrenta, sobre este pesadelo atroz dos nossos começos aqui, nesta terra dos Peles Vermelhas.»
Álvar Núñez Cabeza de Vaca; este homem com um invulgar sobrenome conhecido na Espanha desde o século XIII, terá nascido entre 1490 e 1492. Era um andaluz de Jerez de la Frontera, a dois passos de Cádis, e a extravagância do sobrenome (oferecido pela sua mãe, uma vez que a tradição espanhola coloca a referência materna depois do sobrenome do pai) não o impedia de pertencer a uma família nobre com direito a um brasão onde se destacava o surpreendente crânio de uma vaca. […] Este poderoso Cabeza de Vaca estabeleceu novas regras que pretendiam modificar o comportamento dos espanhóis no seu relacionamento com os índios; e ficaram profundamente desagradados os que exerciam o seu poder com brutalidade e uma bem instalada força de conquistadores, os que só olhavam para os nativos como um povo que devia ser severamente dominado. […] Sabe-se que morreu em Sevilha num dia que os seus biógrafos situam, sem grande margem de erro, entre 1558 e 1560.
Malinche; Malintzin; Doña Marina. Índia, talvez da tribo nauatle, nascida no final do século XV ou nos primeiros anos do século seguinte; guia, confidente e amante de Hernán Cortés, o homem que em 1523 saiu da Espanha para tornar mais forte em terras mexicanas o domínio espanhol. […] Uma lenda que profetizava o regresso de Quetzalcoatl, o deus da serpente emplumada promotor das artes postas ao serviço da beleza e da paz, que o dava como desaparecido no mar oriental e preparado para ressuscitar como um salvador, fê-la desconfiar de que esse deus e esse regresso estavam concretizados na forma humana de Cortés. […] Malinche hoje relembrada em versos de umas quantas canções populares mexicanas; a que também se esbateu, depois do regresso de Cortés à Espanha, nas névoas de uma História onde ela se reconstrói vitoriosa mas traidora, saída das indecisões que esta distância pouco documentada permite, e que provavelmente morreu na Cidade do México, num ano que a tacteante matemática dos seus biógrafos situa por volta de 1551.
[Aníbal Fernandes]