Miguel Tamen: «Recomendo que encaremos a proximidade não como um chapéu que se pode usar, ou uma decisão que se pode tomar, mas como lavar os dentes ou ter fígado.»
Este livro, muito curto, é uma defesa daquilo a que chamo proximidade; defende em particular a importância da proximidade na arte. A proximidade na arte está relacionada com várias actividades, intenções e desejos familiares: querer ter certas coisas por perto, querer estar perto de certas coisas, prestar atenção a certas coisas. Acredito que a noção de arte é inseparável dessas situações comuns. A proximidade parece ser uma noção indispensável. Não se saberá, contudo, exactamente porquê, e como. Tal recomenda que examinemos a noção.
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Neste livro proponho um exame da noção de proximidade em dois ensaios ligados. No primeiro ensaio discuto o caso das pessoas que gostam de ter arte à sua volta e acham que dizem coisas verdadeiras sobre arte por causa dessa inclinação. Defendo que a proximidade não deve ser entendida como uma distância reduzida medida entre nós e a arte; e também não acho que a natureza da proximidade possa ser apreendida adequadamente através da descrição das práticas ou das disposições daqueles que gostam de ter arte por perto. A minha investigação não é pois sociológica ou psicológica.
No segundo ensaio abordo o problema de um modo complementar. Concedo sem dificuldade que estar perto de um poema, de um filme ou de uma pintura, no fundo de qualquer coisa, não produz necessariamente qualquer compreensão acrescida. Essa compreensão acrescida depende normalmente de descrições, e do progresso das nossas descrições, mais que de encontros imediatos ou daquilo a que um filósofo chamou, com aprovação, «o bombardeamento geral do sujeito». Sed contra, há coisas que se podem dizer a favor da familiaridade. Exactamente o quê, e como, é o tópico do ensaio.»
[Miguel Tamen]