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Pedro Lapa, «Joaquim Rodrigo a contínua reinvenção da pintura», por João Seguro, in Contemporânea.pt
05-08-2017

Um livro sobre a obra de Joaquim Rodrigo, que é um livro sobre a discursividade e prática da pintura, que é um livro sobre (a) histórias da pintura do século XX. É assim que se pode apresentar este livro de Pedro Lapa sobre a pertinente obra de um dos mais destacados artistas portugueses do século passado.

 

Pedro Lapa, refira-se, tinha toda a matéria para desenvolver uma monografia deste género, que é aliás a sua tese de doutoramento, pois foi da sua ação conjunta com María Jesús Ávila que foi dado à estampa o catálogo raisonné deste pintor, aquando da sua exposição retrospetiva no Museu do Chiado em 2000.

 

O conhecimento minudente e circunstanciado de Lapa sobre a obra do autor está bem espelhado nas quatrocentas e cinquenta páginas que dão corpo a este estudo e é visível que o seu conhecimento desta obra não é apenas livresco e académico. Há no pensamento de Lapa sobre Rodrigo uma vontade de valorizar e inscrever a trajectória da obra e a vida do pintor, algumas vezes apelidado de naif e fechado, dentro de um modus operandi criativo que espelhava e ecoava noutras geografias da arte internacional, num contexto mais amplo e apropriado ao entendimento das suas heterodoxias. Só um conhecimento de proximidade à figura, ao seu trabalho prático e teórico, e às circunstâncias vivenciais nas quais pensou e produziu, legitimam tamanha articulação entre acontecimentos e factos históricos, vontades individuais e consequências discursivas, como esta que Lapa narra.

 

O livro está estruturado e dividido em quatro capítulos, com o rigor de um trabalho académico que tem uma noção profunda da pinacularidade que uma obra como a de Rodrigo pode assumir caso as disposições dentro das quais pode ser entendido sejam as adequadas.

 

Uma primeira secção onde se dá conta da relação discrepante entre as proposições do autor com as linguagens vigentes no meio português (o neorealismo era um idioma quase generalizado) e as suas incursões pelos estilos matissianos, a recorrência da paisagem como motivo e outras influências da sua aprendizagem autodidata da arte moderna. É provavelmente no irregular começo da carreira artística de Joaquim Rodrigo e na forma como se relacionou com a história da arte moderna e com a obra dos seus contemporâneos que reside a chave para a originalidade que se viria a afirmar paradoxalmente como a sua maior fragilidade e a sua maior virtude.

 

Este segmento envereda por um périplo pelas obras essenciais desta fase formativa, pela descrição das condições de feitura e recepção destas obras, pela caracterização do meio artístico nacional e dos paralelismos aos modelos artísticos internacionais, focando-se sobretudo na inscrição da obra de Rodrigo nessas teias e na possibilidade de entender os momentos de relevância e de mudança na sua obra. Exemplo disso é o subcapítulo Um marco para uma vanguarda da pintura portuguesa no qual Lapa discorre acerca de uma pintura de 1955 que nos permite enquadrar a obra de Joaquim Rodrigo num complexo de referências inéditas que o colocam no centro de um debate urgente da pintura daquela época, ao lado de artistas das vanguarda internacionais e que antecipam uma série de ocorrências da pintura americana como a hard-edge e as shaped canvas. Como refere Pedro Lapa muito justamente «Não fosse a escala reduzida desta argumentação e estaríamos perante uma clara antecipação do conflito que quinze anos mais tarde se veio a instalar no contexto norte-americano, opondo Clement Greenberg e Michael Fried aos minimalistas Donald Judd e Robert Morris.»

 

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