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George Bernard Shaw

Irlandês nascido em Dublim no ano 1856, e terceiro filho antecedido por duas irmãs. Num futuro livro (Sixteen Self Sketches) será grande o seu esforço para se mostrar explicado pelas contingências da infância. O meu pai era pobre e não tinha êxito nos negócios, diz ele, para acrescentar: Nada fazia que interessasse à minha mãe; e não conseguiu desembaraçar-se da sua miserável e vergonhosa embriaguez (mais tarde acabou por fazê-lo) antes de ela operar uma mudança nas suas relações. Se não tivéssemos acrescentado à nossa mansidão e à nossa doçura naturais a imaginação, o ideal, o encanto da música, o encanto dos esplendorosos pores-do-sol e o espectáculo do mar, nem se imagina que cínica grosseria teríamos adquirido.

Com este pai estonteado pelo vinho e uma mãe soprano caseiro que ao correr do dia gorjeava, indiferente à educação dos filhos e desatenta à sua necessidade de um esteio materno, George Bernard Shaw construiu-se solitário, tímido e egoísta: Embora eu não fosse vítima de maus tratos, por ter pais incapazes de cometer um qualquer acto desumano, eles esqueciam-se de mim; isto determinou que eu construísse uma horrível auto- suficiência, ou antes, a ânsia de um jejum perante festins imaginários; o meu muito retardado desenvolvimento fez de mim um animal traidor a tudo quando fossem puros afectos. (Esta vocação para relações frias teve mais tarde duas excepções: a de uma esbranquiçada ligação sentimental com a actriz Ellen Terry e a de um casamento — numa idade que já ia deslizando pelos quarenta — com a aguerrida feminista Charlotte Frances Payne-Townshend.)

[…]

Entre 1884 e 1888, a par do trabalho de crítico sentiu-se romancista, um romancista meio ensaístico. e este impulso mos- trou-o com cinco romances sem nenhum êxito, que os editores recusavam e acabavam por ser publicados em edições laterais sem chancela, pagos hoje a bom preço por coleccionadores. este shaw desanimado romancista e sem vocação para a luta (nunca lutei; subi sempre por fermentação), foi de novo incitado por Archer: — Por que não tentas a dramaturgia? Qualquer coisa faz em ti o anúncio de um autor de comédias!

George Bernard shaw passou a ser um autor de comédias; muitas (que chegaram a cinquenta e sete e a trazer para uma modernidade teatral, ainda rara naquele teatro inglês, lições bem aprendidas das comédias gregas e de Molière); onde talvez não houvesse a marca de um grande criador de personagens, mas com virtudes cénicas celebradas por um público que gostou de apreciar-lhe os diálogos onde reconhecia as naturalidades da trivial conversa, o humor, a ironia e os sarcasmos, os paradoxos, a enge- nhosidade com que criticava as instituições nacionais, o tom nessa época ouvido como de uma singular diferença, a voz metodicamente levantada contra a hipocrisia das moralidades vitorianas. A sua persistente defesa da «mulher nova», em pé de igualdade com os homens, ofereceu-lhe a admiração das feministas. Por isso, quando adoeceu em 1898, depois de um acidente que lhe partiu o fémur e magoou sem piedade o pé esquerdo (o meu pé inchou até ao tamanho de um sino de igreja), teve zelosos cuidados da feminista Charlotte Frances Payne-Townshend e logo a seguir um casamento que ela lhe propôs e se aguentou durante quarenta e cinco anos, por ele resumido na sua essencial vantagem com as palavras de uma carta a Janet Achurch: em vez de ir para a cama às dez, saímos e passeamos durante algum tempo entre as árvores. 

[…]

[Aníbal Fernandes, «Apresentação», As Aventuras de Uma Negrinha à Procura de Deus]

 

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