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MIGUEL DE CERVANTES, OS TRABALHOS DE PERSILES E SIGISMUNDA
07-12-2014

Ler Miguel de Cervantes é mergulhar no espírito da Europa, conhecer a Civilização, encontrar-se com a grandeza de um continente que viu nascer o que de melhor existe. Estamos cansados que nos digam que o século XX foi o das trevas, substituindo a tão maltratada Idade Média. Não é possível, nem desejável, apagar a História e varrer dela a memória do mal, mas também não é saudável eliminar o bem, anulá-lo e substituir os seus artífices por retratos de malfeitores. E é isso que tem sido conseguido, num processo de menorização de uma herança, que na prática se traduz por uma vergonha face ao que é nosso, reduzido à condição de caricatura deformada e grotesca. Porque nós fizemos o mal, sim, mas fomos os primeiros a assumi-lo, a interrogá-lo. E, ao seu lado, produzimos o bem, durante séculos e séculos. O bem que se manifesta nas letras que tão maravilhosamente se cultivaram por aqui e encontram no vate castelhano um dos seus intérpretes mais notáveis num tempo em que os homens ainda o eram e conheciam o valor do cavalheirismo e da nobreza, tal qual como as mulheres, igualmente merecedoras do seu papel, sem falsas libertações de cariz mais ou menos modernizantes trazidas por esse monstro que dá pelo nome de progresso.

 

Manuel de Sousa Coutinho morreu de amor e de desgosto, quando tal fim era possível, quando alma e corpo permaneciam juntos e sabiam dos mistérios da ressurreição. Os trabalhos de Persiles e Sigismunda são um universo de deslumbramento, numa Europa assombrada por feiticeiras e bons católicos, por bárbaros que não se recusavam a sê-lo, por heróis que não tinham vergonha de chorar. Este mundo parece-nos hoje tão longínquo como se fosse o tempo do paleolítico. Passam por aqui descrições e aventuras maravilhosas, sentimentos sublimes, sacrifícios impensáveis, caracterizações apenas ao alcance de quem muito viveu e conheceu, de quem muito padeceu, de Lepanto a Argel, passando por Lisboa à sombra da qual Cervantes se encantou. Também o retrato do bom governo e do bom soberano nos surge nestas páginas, em lições que muito aproveitariam a quem as soubesse escutar, assim houvesse vontade por parte de quem comanda os destinos do continente.

 

Não há muito mais para dizer, pois ao pé de tão grandes obras esmorece aquilo que possamos escrever, tão pequeno é quando comparado ao que se louva. Aventure-se pois, o leitor, e saiba desfrutar das espantosas peripécias do casal de enamorados, que correu a Europa de lés a lés numa odisseia só possível de descrever por quem foi abençoado com o génio.

 

5 estrelas.

 

João Vaz

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