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INFERNO
24-02-2016

[...] O inferno de Strindberg era o inferno da introspecção, o inferno tangível-fantasmático das «insónias, pesadelos, aparições, angústias e palpitações», todos os cães do inferno que nos saem ao caminho.

Por isso, os motivos explícitos deste romance autobiográfico mas factualmente exagerado têm menos importância do que as suas sugestões. E o próprio estatuto de romance pode ser substituído, com vantagem, pelo de diário ficcionado. Kafka, que era o meu escritor favorito no tempo da faculdade, admirava Strindberg, e percebe-se porquê. O sentimento da perseguição em Strindberg é como o vício da auto-acusação em Kafka. E as ciências ocultas e miríficas de um são as leis e os tribunais iníquos do outro. Strindberg diz-nos que cresceu com uma ideia distorcida, religiosa, do que é o inferno; mas aprendeu que o inferno existe sem dúvida absolutamente nenhuma: «Fui educado no mais profundo desprezo pelo inferno, ensinado a tê-lo como fantasia atirada para o monturo dos preconceitos. Apesar disto não posso negar uma diferença, e reside nela a novidade da interpretação das chamadas penas eternas: já estamos no inferno. A terra é o inferno, prisão que uma inteligência superior construiu de forma a eu não poder dar um passo sem beliscar a felicidade alheia, e os outros não poderem ser felizes sem me fazer sofrer». O inferno são os outros, talvez, mas o «eu» é o verdadeiro inferno absoluto. [...]

 

Pedro Mexia, in Expresso, 21/02/2016

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