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MESSALINA
11-04-2016

[…] Messalina, terceira mulher de Cláudio César, legou à posteridade o sinónimo de rameira insaciável e perfídia assassina. Compulsando Tácito e Suetónio, o escritor entrelaça uma outra história alucinada da aventureira, fazendo dela uma «feroz ingénua, atordoada pela procura de um verdadeiro e absoluto amor. E quando se entrega ao gládio letal e sangrento, é para encenar com lirismo operático a sua apoteose», como realça o tradutor na sua apresentação. A linguagem de exuberante extravagância, altamente sexualizada, entre a fantasia acordada e o desvario langoroso, exprime a busca do erótico absoluto, na enfática união ao deus do amor (o inverso de Roma). O arquétipo feminino, na sua face lunar, ou lupalunar, ressalta da intenção de Jarry, subjacendo ao livro a forte intenção simbolista. Em quadros encenados, do prostíbulo inicial ao jardim vulvular, do teatro à cena final, reina uma atmosfera voltaica, à beira do precipício, inquinada por eflúvios deletérios, de «deboches da inteligência onde os sentimentos não se incluem», como observou Apollinaire. Houve quem dele se tentasse apropriar, do freudismo ao surrealismo. Em vão.

 

José Guardado Moreira, in Expresso, 09/04/2016

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