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«Derborence», por Maria do Carmo Piçarra
26-01-2018

Sobre os temas da escrita do escritor suíço Ramuz disse Stefan Zweig serem “a banalidade do quotidiano transfigurada, eternizada pela intensidade do artista”. As esperanças e anseios dos homens foram também matéria para a escrita de Ramuz. A escrita do seu romance Derborence equilibra a simplicidade dos sentimentos, superstições e gestos dos camponeses com a força da natureza, ora solar ora ameaçadora. Derborence é uma aldeia suíça que, no século XVIII, foi soterrada quando parte da montanha derrocou matando várias pessoas e animais. Este acontecimento inspirou a obra de Ramuz, publicada em 1934 e agora editada em Portugal.

O recém-casado Antoine subiu há uma semana para a montanha, com Séraphin, e aborrece-se com a separação de Thérése. Séraphin, tio de Antoine por casamento, lê-lhe a alma. Propõe-lhe que desça à aldeia e passe algum tempo com a mulher. Porém, ainda nessa noite a montanha desaba sobre eles.

O que Ramuz escreve depois, numa narrativa em que a simplicidade da linguagem sublinha a não linearidade daquilo que é contado, são apontamentos em que o estado físico da montanha e os estados emocionais dos sobreviventes se integram na paisagem. Os diabretes não habitam apenas num lugar mítico da montanha; são criações do espírito que vivem no coração humano. Na segunda parte de Derborence, Antoine, que sobreviveu sete semanas soterrado, volta à aldeia. O espírito dos camponeses não fica menos perturbado por isso do que o do sobrevivente. É tomado como uma alma penada. A crença que Séraphin está vivo, soterrado, puxa-o de novo para a montanha. Terá que ser Thérère a chamar Antoine de novo para a vida.

 

Maria do Carmo Piçarra, Diário do Alentejo, 26 de Janeiro de 2018.

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