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«Triângulo», por João Sarmento
03-02-2021

Em 1967, Bruce Nauman desenhou uma espiral em néon, no interior da qual podemos ler as letras azuis que dizem: «The true artist helps the world by revealing mystic truths». O conteúdo da mística é a própria natureza do mistério, o assombro, o espanto, o indizível. Contudo, também o acto de revelar é parte integrante do funcionamento da mística, do sagrado e do oculto. A afirmação do néon de Nauman demonstra, portanto, uma espécie de metodologia do fazer artístico como um aprofundamento em infinito, como uma espiral de claridade.

Independentemente do que possa significar ser um verdadeiro artista, podemos reconhecer que existe uma nostalgia demiúrgica no fazer das práticas artísticas. Persiste, sob a ideia de artista, uma sombra dos actos de culto: há uma proximidade entre a produção do mundo da arte e a construção atemporal de símbolos. De algum modo, nas palavras do Mircea Eliade, por «mais avançada que estivesse em determinada época a dessacralização do cosmos, os ofícios conservam ainda o seu carácter ritual.»[1] Por isso, a transformação das matérias-primas, as substâncias moldadas desde os seus princípios vitais, foram manipuladas, pela artesania, na construção dos artefactos, às mãos de alquimistas, xamãs, sacerdotisas e sacerdotes. Neste sentido, parece que se misturavam mais completamente à vida complexa da matéria os seus mistérios invisíveis. Assim, física e metafísica orbitavam na dinâmica do trabalho e do ritual.

Mircea Eliade lembrava que «o sagrado é uma parte da estrutura da consciência e não um estádio na evolução da consciência. Ou seja, não houve uma época em que as coisas eram mais espirituais do que hoje.»[2] Mesmo intuindo uma dessacralização do mundo e da cultura contemporânea — onde os ritos se privatizaram num crescente subjectivismo — persistem ainda hoje múltiplas dimensões não óbvias, latências da experiência do mistério.

Sem ritos, desfalecemos. […]

João Sarmento

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http://blogue-documenta.blogspot.com/2021/02/triangulo-por-joao-sarmento.html

Ver a apresentação de Persistência da Obra I — Arte e Política e Persistência da Obra II — Arte e Religião 

https://www.youtube.com/watch?v=9BuVFZHofpI

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