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«Doze Fronteiras», de Joaquim M. Palma, por Isabel Maria Mónica, in «Brotéria», Abril de 2021
09-05-2021

Doze Fronteiras é fruto do fascínio do seu autor por pessoas e lugares que, por sua vez, o levaram até à realidade atravessada pela fronteira «para ir à procura do genuíno, onde o belo (e o feio) têm sempre algo a dizer» (p. 14). A sua viagem evidencia como as terras raianas portuguesas e espanholas, apesar da fronteira que as estanca, estão menos separadas umas das outras do que das capitais dos respetivos países, das quais estão realmente afastadas e por elas esquecidas.

Assim como estes países distintos se imiscuem mutuamente — através das suas culturas e das pessoas que recorrentemente ultrapassam a fronteira, enfraquecendo-a — também diferentes sentimentos se misturam durante a leitura desta obra. Se por um lado é interessante o despretensioso conceito de diário de bordo — de emoções feitas prosa, poesia ou fotografia — por outro, acaba por ser frustrante não se conseguir visualizar as terras, as pessoas, as igrejas, os animais e as paisagens sobre os quais se lê. No entanto, é apetecível fazermo-nos à estrada com este livro na mochila. E talvez seja esse mesmo o objetivo: assinalar os sítios a que já fomos e apontar aqueles que ficámos a querer visitar para testemunhar, com os nossos olhos, «o monumental que foi preterido em nome da singularidade do pequeno, do abandonado, do furtivo» (p. 13).

Contudo, a mais intensa mistura de sentimentos acontece quando uma visão mais idílica do campo é confrontada com a ausência de crianças, as construções de emigrantes e um abandono aparentemente irreversível. O ideal será deixarmo-nos contagiar pelo olhar atento do autor e fazer deste livro um companheiro de viagem porque, como lemos na introdução, é importante viajar, tendo em conta este «nosso século de consumismos desenfreados e de omnipresentes e massificadoras tecnologias que acabarão […] por obliterar as frágeis periferias que formam o interior longínquo onde uma pedra é uma pedra e não uma imagem exposta num ecrã» (p. 16). Aconselha-se, portanto, uma leitura itinerante.

[Isabel Maria Mónica, Brotéria, Abril de 2021]

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