E se existisse um lugar no mundo, nomeadamente, uma montanha-ilha, por sinal, a mais alta da Terra, e ainda ninguém, ou quase ninguém, se tivesse dado conta? René Daumal, ou Re-né («Re-nascido »), na sua magnum opus, por coincidência escrita entre 1939–1944, revela-nos tudo acerca deste lugar: O Monte Análogo. Desafortunadamente inacabada devido a inúmeros problemas de saúde do seu autor, que culminaram numa tuberculose, acabou por se tornar, mais merecida do que afortunadamente, numa obra do infinito, do eterno.

Influenciou inúmeros académicos, músicos, alpinistas, empresários, políticos, artistas, sendo um perfeito exemplo disso o filme La Montaña Sagrada de Jodorowsky. Esta nova edição, com uma belíssima tradução, organização e apresentação de Jorge Leandro Rosa, além da obra em si, dá-nos a conhecer os mais importantes marcos da vida e do universo Daumalianos, inclusive a sua pegada no panorama literário português, bem como nos confere acesso a uma série de anexos que permitem penetrar um pouco mais além nos planos do autor para a sua conclusão e na sua metafísica e exercícios espirituais, através de algumas cartas, enquadramentos e ensaios.

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O Monte Análogo apresenta-se como um «romance de aventuras simbólico», que narra uma viagem a uma montanha única: «a Via que une aTerra ao Céu» [p.125]. Contudo, apesar dos seus contornos indelevelmente metafísicos e espirituais, o inteligível e o quotidiano inerentes a qualquer expedição, têm aqui o seu lugar bem demarcado.

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João Maria Lourenço

[Texto completo em Brotéria, Abril de 2023]