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Francis de Miomandre

Francis de Miomandre [1880-1959], com vinte e sete anos de idade e a poucos dias de fazer vinte e oito, teve o Prémio Goncourt a distinguir-lhe o romance Écrit sur de l’eau… «O meu Goncourt não foi para ninguém um acontecimento, nem mesmo para mim.» A surpresa da atribuição — o Goncourt «descido» a um novato, e a um livro de vivacidade leve e quase frívola — encheu o meio literário parisiense de anedotas. No entanto, a habitual acidez de Jules Renard abrandou no seu terrível Diário para mostrar alguma simpatia pelo «rapaz»: «Muito jovem, vinte e sete anos, um pequeno mosqueteiro, um miúdo cheio de aprumo, muito decidido a não ter um ar contrafeito, apesar de isso lhe acontecer.» Francis de Miomandre era filho de um negociante «excêntrico», uma típica figura do comércio de Marselha, tudo menos um marido, tudo menos um pai; mas o seu lado materno orgulhava-se de ter um pé bem metido na História porque um dos seus antepassados — com um nome duplamente santificado: François de Miomandre de Sainte-Marie de Saint-Pardoux — tinha defendido com braço forte Maria Antonieta durante o assalto do Povo da Revolução ao palácio de Versalhes.

[…]

Este enérgico literato começou a aparecer com artigos em muitos jornais (mas em paralelo com a sua intensa vida das letras não hesitou em propor-se como o gigolô mundano que um dia fez a Marie Gaspar este pedido cheio de franqueza: «Não conhece nenhuma velha condessa alemã ou uma qualquer velha dama que precise de um leitor e seja capaz de dar-me cento e cinquenta francos mensais para eu lhe ler um determinado número de horas por dia, e mais tarde seja capaz de deitar-me ao comprido no seu testamento?» E noutra carta também lhe conhecemos este regozijo: «A pouco e pouco, a minha reputação como jovem precioso e amigo das damas espalha-se entre as pessoas e ganho simpatias. Deixo a coisa correr. Acabarei por ser célebre.»)

[…]

Miomandre, com o frenesi sexual de um láparo, fez Paul Claudel e André Suarès começarem a tratá-lo por «coelhinho»; mas houve nesses mesmos dias Apollinaire a mostrar-se com a simpatia de avaliá-lo em La Phalange e de considerá-lo um autor «puro» e «subtil». Foi em 1909, neste auge de premiado pelo Goncourt e de uma competência que encantava mulheres entradas na idade e saudosas de ternura e sexo, que Miomandre foi a Bruxelas e encontrou uma viúva belga dez anos mais velha do que ele, com posses não negligenciáveis e um nome íntimo, capaz de soar divertidamente aos ouvidos portugueses: Mijette.

[…]

Miomandre passou a Segunda Guerra Mundial em Corrèze, com uma indiferença pelos assuntos políticos idêntica à que tinha mostrado na guerra anterior. Em 1941 publicou as três novelas de Le Fil d’Ariane, com alguns críticos a chamarem-lhes obra-prima; em 1944 foi eleito membro da Academia Mallarmé.

Mas a literatura do pós-guerra estava a mudar de tom, a mudar de género, a mudar de face. Apareciam os Sartre, os Camus, os Vailland, que não encontravam lugar na sua matriz. Françoise Sagan mereceu-lhe o intenso desprezo escrito que fê-lo dar à expressão «Bom-dia tristeza» um sentido acrimonioso e contrário ao eluardiano, da escritora.

Miomandre não foi, apesar disto, esquecido. Em 1950 ganhou o Grande Prémio da Sociedade da Gente de Letras pelo conjunto da sua obra. Tinha cerca de uma centena de obras publicadas.

Mas viveu os seus últimos anos desiludido, até à irremediável crise de uremia que o hospitalizou e fez morrer em Paris, em 2 de Agosto de 1959. Diz-se que seduziu no hospital as enfermeiras.

[Aníbal Fernandes, in «Apresentação» de A Biografia de Vénus, Deusa do Amor]

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