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Enrico Pea
[…] Neste ambiente cheio de jovens com uma energia pouco amável e dirigida a tudo que parecesse «normas burguesas», Ungaretti — que já tinha um Enrico Pi nas suas relações — acrescentou-as com um Enrico Pea. Enrico Pea, sete anos mais velho do que ele, naquele momento ganhava ali a sua vida. Tinha nascido em Seravezza [29 de Outubro de 1881], uma pequena povoação da comuna de Lucca, na Toscânia, e trazia consigo cruéis memórias da infância. Em Setembro de 1885 uma inundação destruíra a casa da sua família, e dois meses depois o seu pai tinha morrido num acidente de trabalho; a mãe, que só conseguia ganhar a vida como criada, foi para longe; pôs dois irmãos seus, mais velhos, a viver com a família paterna e Enrico ao cuidado do seu tio Ermenegildo, um ferreiro que o empregou como aprendiz. Mas em 1890 o muito jovem Enrico, farto de malhar em ferros fugiu para a casa do seu avô materno que vivia num vinhedo, perto de Ripaino. O muito jovem Enrico palmilhou os quilómetros que o levavam à esperança de afectos sentidos numa verdadeira família; e viveu até aos treze anos com este avô (forte presença na futura novela Moscardino) saído há pouco de um manicómio onde o tinham internado depois de uma tentativa de suicídio, e com um distúrbio mental rotulado pela medicina como «ciúme obsessivo». Não frequentou nenhuma escola. O avô ensinou-o a ler; e não só lhe incutiu comportamentos que o faziam sentir a vida como uma aventura quotidiana, liberta dos constrangimentos que a sociedade organizada impõe aos seus cidadãos, mas fê-lo apaixonar-se por essas histórias que uma sabedoria antiga lhe contava em noites aquecidas pelas chamas da lareira. Só mais tarde, quando esteve internado num hospital por lhe ser diagnosticada uma tuberculose, Enrico chegou à leitura corrente e aos rudimentos de uma cultura depois acrescentada com uma perseverança indiferente às disciplinas do ensino oficial. […] O fascismo italiano de Mussolini estava atento às rebeldias que não reflectissem os valores da sua política e da sua moralidade. Em 1943 Enrico Pea, escritor e empresário teatral, foi acusado de ser antifascista e teve de suspender as suas actividades ligadas ao jornalismo e ao teatro. Saiu de Viareggio e refugiou-se em Lucca, onde podia levar uma vida recatada e menos acessível aos esbirros do regime. E só em 1948, numa Itália já livre do mussolinismo, começou a colaborar no Corriere d’informazione, onde publicou os seus últimos artigos. […] Em 11 de Agosto de 1958 morreu na sua casa de Forte dei Marmi com reincidências da tuberculose que o acompanhou, mais ou menos vigilante, desde a infância. […] [Aníbal Fernandes, «Apresentação», Moscardino] ARTIGOS RELACIONADOS
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