Rui Tavares: «É isso que os cartoonistas aqui representados conseguem fazer: dar-nos um espaço para pensar quando à nossa volta tudo grita. E fazem-no perante uma realidade que oscila entre a farsa e a tragédia.»
Livro publicado no âmbito da Cartoon Xira’2018, realizada de 13 de Abril a 21 de Julho de 2019, no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira.
Os cartoonistas têm uma força moral que raramente é reconhecida. É uma missão melancólica, um papel como aquele que na Antiguidade estava reservado aos bodes expiatórios ou aos barqueiros que lavavam os pecados coletivos nas águas dos rios. Em Portugal, onde a comunidade cartoonística não é, em comparação, numerosa, mas onde há uma experiência acumulada decantada pelo fatalismo nacional, esse papel existencial do cartoonista é singularmente bem cumprido. Tão bem, aliás, que ao observador mais distraído pode parecer que é fácil ou natural ser cartoonista, para mais numa época maniqueísta, hiperbólica e francamente perigosa como a nossa. Não. Não é, não pode ser fácil ser cartoonista em tempos de cólera. E no entanto nunca precisámos tanto deles. Para lavarmos a alma. Para nos inquietarmos. E sobretudo para agirmos em nome da dignidade e da justiça.
[Rui Tavares]
Comentários de José António Lima.
Em colaboração com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.
Edição bilingue: português-inglês.