O que aqui se pode ler é assim uma descrição dos contextos político, social e cultural da vida de Júlio Pomar, dando importância às suas facetas de crítico e historiador e teorizador da arte. [Irene Flunser Pimentel]
O convite à historiadora Irene Flunser Pimentel […] ambicionava apenas que a autora se dispusesse a partilhar, em modo oral, como numa conferência ou conversa informal, aspectos sobre o modo como se exerciam a censura e repressão, conducentes a diversos «apagamentos históricos», sobre os quais se desconhece, em concreto, o modo como aconteciam.
Dada a extensão e profundidade da investigação que se materializou em vertente escrita, o Atelier-Museu convidou Irene Flunser Pimental a publicar o seu estudo, que teve como ponto de partida a figura de Júlio Pomar, aspirando assim contribuir para dar a compreender estes processos históricos, de apagamento e distorção, postos em prática pelos regimes de repressão quase sempre através de canais invisíveis, e que não raras vezes continuam a efectivar-se por outras vias, nomeadamente o silêncio a que são votados certos assuntos incómodos ou pouco consensuais.
[Sara Antónia Matos]
Da polícia política da ditadura sentiu a mão longa repressiva, mas como ele próprio diria, «não muito», pois cedo teve de ganhar a vida produzindo e lucrando com o facto de pertencer à pequeníssima elite artística portuguesa e ser reconhecido como tal. […]
Júlio Pomar sentiu as contradições que todos os que faziam parte do seu meio cultural e político sentiram, querendo «chegar ao povo» e transformar a situação política, mas sem que a sua arte, o seu trabalho, fosse «consumida» pelos trabalhadores, mas por quem tinha dinheiro para a comprar. Mas Júlio Pomar sentia-se bem no seio da contradição, guardando do seu pensamento inicial marcado pelo hegelianismo e pelo marxismo a ideia de que da tese e da antítese resultaria uma síntese.
[Irene Flunser Pimentel]
Em co-edição com o Atelier-Museu Júlio Pomar.