Este livro reúne um conjunto de ensaios consagrados a problemas e a conceitos próprios da Filosofia Política. O fio cronológico adoptado na ordenação dos capítulos, começando na Baixa Idade Média, estende-se à Proto-Modernidade e termina na Contemporaneidade.
Contudo, mais do que a extensão de um arco temporal normativamente circunscrito, o que aqui está verdadeiramente em causa são os usos da linguagem na política e, consequentemente, o carácter ficcional dos conceitos em Filosofia Política. Em poucas palavras, pode dizer-se que é este o objecto comum aos diferentes ensaios aqui coligidos e que é também este o tipo de unidade a que eles podem modestamente aspirar.
Sabemos bem que, nos casos mais afortunados, os conceitos de Filosofia Política não só constituem uma língua própria dentro da língua da Filosofia, como forjam todo um léxico, uma sintaxe, e por vezes mesmo um estilo, com uma fisionomia própria e uma vida autónoma. No entanto, ir hoje atrás do que Maquiavel, há mais de quinhentos anos, chamou a «verdade efectiva» da política, implica muitas vezes, como observou Friedrich Nietzsche, que «os filósofos já não possam contentar-se em aceitar os conceitos que lhes são dados apenas para os limparem e os fazerem brilhar, antes é necessário que comecem por os fabricar, criar, formular, e que persuadam os homens a recorrer a eles». É, sem dúvida, esse singular gosto filosófico ou afecção pelo «baptismo do conceito», como alguém recentemente lhe chamou, que caracteriza os grandes clássicos de Filosofia Política, sejam estes antigos, medievais, modernos ou contemporâneos. Disso, procurarão dar conta, espera-se, os ensaios que o leitor tem diante dos olhos.
[António Bento]
Com o apoio do Grupo de Filosofia Prática LabCom.IFP