Pensamos a Escritura em diálogo com o nosso tempo e com as múltiplas gramáticas existenciais para dizer o humano comum e a sua possível relação com o Transcendente.
A sombra dá à luz a forma capilar das coisas, a sua epifania ou desvelação, pela qual algo se nos manifesta e aparece no modo e no tempo próprios, «em carne e osso». É o invisível como dobragem do visível que nos faz ver mais do que aquilo que vemos num primeiro golpe de vista, que intui na inspecção do olhar o toque tímbrico da verdade que se manifesta e como se mostra à nossa fé perceptivo-afectiva. Ao longo deste percurso heurístico à sombra do Invisível, evocaremos mais do que demonstraremos, não por simples efeito de estilo literário, mas porque é esse o nosso próprio modo de ser. Pensamos a Escritura em diálogo com o nosso tempo e com as múltiplas gramáticas existenciais para dizer o humano comum e a sua possível relação com o Transcendente. Como humanos que somos, buscamos sempre a experiência inaudita do mistério que nos habita poeticamente. Este ensaio encaminha-se, ainda que só por ora tenuemente, para uma hermenêutica sapiencial e apofática da realidade, que abarca muitas das gramáticas artísticas e pensantes do nosso tempo. Que imagem melhor do que a da sombra para nos adentrar nesse mistério da invisibilidade, na presença da Ausência? A sombra guarda em si a presença inconsútil do mistério, a presença de uma ausência e a ausência de uma presença. O desejo é o motor de toda a procura espiritual ou intelectual, pois, como escrevia o filósofo Paul Ricoeur, «é o desejo do desejo que se apodera do conhecer, do querer, do fazer e do ser».