É a crise desta noção estável e circunscrita do conceito de media — crise que se foi manifestando desde o final do século passado com a generalização dos computadores e a abstracção progressiva dos seus comandos — que constitui o mote deste livro.
Num momento em que nada parece escapar às mediações técnicas, o conceito de media dissolve-se numa generalização possível a todos os campos da experiência. Seja na metáfora da rede, da nuvem, da máquina universal, da mnometecnologia geral, do meta-medium do computador ou do big data, as configurações holísticas proliferam e apontam o aparelhamento geral da experiência como uma nova natureza, uma nova metafísica ou um novo sublime, dependendo da metaforização que se queira fazer do cenário. Uma crítica da mediação enquanto totalidade implica reconhecer que os media constituem a infra-estrutura de determinação da experiência, a partir da qual os próprios media e o real são reconhecíveis e pensáveis, mas implica também reconhecer que essa infra-estrutura se encontra saturada de processos de individuação e de objectos potentes e instáveis, no limiar do desvio, da imprevisibilidade e da entropia, que compõem uma imagem viva do real, não antecipável e constantemente remodelável.
[Manuel Bogalheiro]