Em tempos em que se atropelam declarações de últimas vontades, há que escolher como se os tempos fossem imaginativos e nos movessem vontades de tempos novos.
«Vivemos tempos árduos. Desde que a crise se instalou no opulento Ocidente, um esquema societário da subtracção hegemoniza-se sob o fundamento duplo de que, na ordem dos factos, o mundo não basta para todos e de que, na ordem dos valores, não devemos dar por garantido nenhum direito adquirido quanto à existência digna no mundo. O próprio exercício da escolha, que os ciclos democráticos pressuporiam, é posto sob a suspeita da leviandade. A democracia ganha aversão aos democratas. No fundo da questão, o que se instala no regime societário da subtracção é a adversidade à própria vontade de escolher. Os ensaios deste livro procuram defender um caminho diferente, de escolhas humanas que dêem um futuro à História, através do pensamento sobre a liberdade política de Jean-Jacques Rousseau, Isaiah Berlin, Hannah Arendt, Jacques Rancière, Jean-Paul Sartre e Slavoj Žižek. E também escolhas por uma continuação da ideia de tolerância, pelo prosseguimento de uma narrativa moderna, por apressada que tenha sido, para Portugal, e pela defesa de um conceito de espaço público, todas elas escolhas que são continuidades de uma modernidade a retomar. Em tempos em que se atropelam declarações de últimas vontades, há que escolher como se os tempos fossem imaginativos e nos movessem vontades de tempos novos. Estas são as primeiras vontades para uma vida humana digna.»
[André Barata]
Em colaboração com o Instituto de Filosofia Prática.
Colecção Ethos e Polis: Primeiras Vontades – Da liberdade política para tempos árduos, André Barata; Introdução à Ética, José Manuel Santos; Da Autonomia do Político – Entre a Idade Média e a Modernidade, Vários autores (coord. e org. José Maria Silva Rosa); Teorias Políticas Contemporâneas, Vários autores (org. José Gomes André, José Manuel Santos e Bruno Peixe Dias); A Ética e os Limites da Filosofia, Bernard Williams.