Apesar de um lento, espinhoso e polémico processo de consagração académica, e não obstante a familiaridade da palavra junto do grande público, a verdade é que o termo geral «neoliberalismo», sujeito desde os anos 1930 até aos dias de hoje a todos os tipos de uso e de abuso, está longe de ser unívoco.
Do Colóquio Walter Lippmann (Paris, 1938) à constituição da Mont Pèlerin Society (Suiça, 1947); do ordoliberalismo alemão nascido das cinzas da Segunda Guerra Mundial ao final dos anos 1970 e início dos anos 1980, com a chegada ao poder de Margaret Thatcher no Reino Unido e de Ronald Reagan nos Estados Unidos da América; do diálogo oculto e da luta titânica travada no decorrer do século XX entre John Maynard Keynes e Friedrich A. Hayek por uma definição operativa e normativa da economia contemporânea; dos Chicago Boys aos «novos economistas» europeus; da grande crise financeira de 2008 aos incertos e angustiantes dias de hoje, o termo «neoliberalismo» permanece uma nebulosa conceptual capaz de acolher as tradições mais díspares e as versões mais contraditórias tanto do liberalismo político como do liberalismo económico modernos. Apesar de um lento, espinhoso e polémico processo de consagração académica, e não obstante a familiaridade da palavra junto do grande público, a verdade é que o termo geral «neoliberalismo», sujeito desde os anos 1930 até aos dias de hoje a todos os tipos de uso e de abuso, está longe de ser unívoco. Ao ponto de podermos sem receio afirmar que sob uma falsa unicidade e sob uma ilusória transparência do termo «neoliberalismo» se ocultam afinal «neoliberalismos» vários, com linhagens, tradições, práticas e desenvolvimentos económicos e políticos altamente diferenciados. Esta obra que agora se apresenta ao público, que desde o início se quis científica e não ideológica, nasceu de um colóquio internacional que o Grupo de Filosofia Prática (unidade de ID Labcom.IFP) organizou em Novembro de 2015 na Universidade da Beira Interior. Entre os próprios autores deste livro em primeiro lugar, mas também entre o público e os autores, este encontro científico suscitou na altura um debate vivo e plural, e, espera-se, também clarificador, face aos novos problemas teóricos e aos correspondentes desafios práticos que o prefixo «neo-» veio colocar à actual compreensibilidade e inteligibilidade do conceito de liberalismo.
Com o Grupo de Filosofia Prática.