Diogo Nóbrega: «“A Figura”, lê-se na primeira página do ensaio que Deleuze dedicou a Francis Bacon, é “uma Imagem, um Ícone”. Eis os índices conceptuais que nos devem, portanto, ocupar.»
Deleuze fala-nos de um trabalho, do «esforço que a Figura exerce sobre si própria», de cada vez dissipando em si o refúgio auto-indulgente de uma pátria disponível, privada ou pública. A Figura escapa. O seu esforço, a sua coragem, é aceitar fugir. «É preciso avançar até aí para que reine uma Justiça», diz o filósofo, que não é «senão um Saara», as distâncias, por percorrer sempre, de um deserto em nós. A Figura quer o deserto, o regimento de uma «catástrofe» (é a palavra de Deleuze), através da qual renuncia a um elemento representável, probabilístico de si mesma, em nome de uma unidade cósmica de medida. Esta renúncia não é apenas a reverberação vital de um apelo do tempo, o responso, dir-se-ia, o compromisso mimético, quase-litúrgico da Figura com a passagem do tempo, mas, também, o seu destino democrático.
[Diogo Nóbrega]