Catálogo publicado por ocasião da exposição «João Botelho – Só Acredito num Deus que Saiba Dançar» [26 de Julho 2014 – 12 de Outubro 2014, na Plataforma das Artes e da Criatividade / CIAJG, Guimarães], produzida pelo Centro Internacional das Artes José de Guimarães.
Este livro é o terceiro e último vértice de um triângulo composto pela exposição «Só Acredito num Deus que Saiba Dançar», de João Botelho, e o ciclo de cinema que a acompanhou. Além de documentar a exposição, publica textos de autores que em diferentes fases do percurso de João Botelho lhe foram próximos, quer enquanto observadores, quer enquanto cúmplices, e que, num contexto editorial tão carenciado de publicações exclusivamente dedicadas a universos de autores-chave da nossa contemporaneidade, constituem um privilegiado e eloquente contributo crítico para o estudo de uma obra complexa, densa e frequentemente desnorteante, para quem nela procura continuidade e coerência. A exposição que o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) apresentou não é uma exposição clássica sobre a obra de um cineasta, mas antes a construção de um atlas de referências e de afinidades que procura dar a ver as múltiplas e profundas relações que com o imaginário da arte, desde a pré-história à contemporaneidade, detendo-se sobre a pintura, dos séculos XVI e XVII sobretudo, mas também a arte mais recente, o cinema de Botelho ensaia. Aqui, o desafio é o da mudança de contexto, de escala e de suporte, mas, sobretudo, o de outra temporalidade e de uma experiência perceptiva proposta ao espectador radicalmente distinta da do espaço abstracto da sala de cinema. A frase que dá título à exposição de João Botelho é uma máxima do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, inscrita num dos mais famosos e influentes livros do autor, Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém, escrito entre 1883 e 1885. A dança está frequentemente presente nos filmes e é omnipresente na vida de João Botelho, um dos mais singulares realizadores contemporâneos. […] Qual dançarino, entre o voo e a queda, em deriva, o autor de Conversa Acabada revisita obras suas e convoca obras de outros artistas, do passado ou seus contemporâneos (como é o caso da singular abordagem ao trabalho de João Queiroz, Francisco Tropa, Jorge Queiroz e Pedro Tropa, o filme Quatro, aqui mostrado em formato instalação e em diálogo com peças destes artistas), com um genuíno desejo das coisas, estabelecendo relações, mais ou menos evidentes, simultaneamente obscuras e luminosas. [Nuno Faria]
Edição bilingue: português-inglês.
[Co-edição: A Oficina, CIPRL]