André Barata: «A chuva faz ressoar uma interioridade em plena exterioridade. Talvez, por isso, ouvir a chuva cair embale como uma canção sem canto. Como se revelar a queda na ressonância convidasse a revelar a ressonância da queda.»
Este livro breve retoma uma parte do meu primeiro livro, Metáforas da Consciência, publicado fez este ano 25 anos, um estudo sobre o pensamento de Jean-Paul Sartre, sobretudo em torno de O Ser e o Nada, o seu ensaio de ontologia fenomenológica. Na altura, levou-me a esse lugar uma ideia de consciência que me interpelava, a de que a consciência não teria substância, seria apenas o movimento de ser consciência, sem uma substância, sem um interior, tudo fora, na verdade nem isso, porque sem dentro não há fora, apenas consciência de transcendência, o eu tão transcendente como qualquer outra realidade aí fora, apenas mais íntimo por estar mais presente, companhia bastante presente da consciência. E foi assim que o pensamento de Sartre me foi apresentado. Primeiro, o seu pequeno A Transcendência do Ego, logo depois, o seu grande O Ser e o Nada.
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25 anos depois, neste livro breve, revisito a parte do original dedicada a uma tentativa de compreensão da consciência como ressonância, texto retocado na tentativa de fazer uma ponte com a linguagem do passado, e a que junto esta explicação inicial e ainda um outro texto, completamente diferente, no estilo e no género, sobre a experiência da queda, mas que, sob um certo ângulo, é a sua continuação no estado em que me sinto hoje a pensar uma ideia de ressonância. E, por isso, chamo a este livro breve Ressonância e Queda.
[André Barata]