Luzes e sombras
«Que nos põem a cismar,
nos assombram quando ficam claras
e acabam por desembocar na precisão,
atingindo-nos para lá do que o seu desenho revela.»
Edith Wharton [Nova Iorque, 1862 – Saint-Brice-sous-Forêt, 1937] fez-se uma hábil construtora de atmosferas batidas pela luz, pela sombra, e sobretudo por um não-dito que lhes garante a peculiar sedução. E em quase todas plana a fundamental lição dos textos de Henry James: o ponto de vista exclusivo de uma das personagens, limitador e a deixar-nos entregues ao que a sua participação na intriga permite conhecer. As escolhas deste livro passeiam por cinco destes textos «perturbados» [«A Sineta da Criada de Quarto», «Confissão», «Mais Tarde», «Segundo Holbein», «Uma Garrafa de Perrier»].
[Aníbal Fernandes]
Diz-se que o estilo de Edith Wharton é um claro e luminoso meio de fazer as coisas surgirem precisas e de nos atingirem para lá do que realmente está escrito. Mas não deixará aqui de se ter isto por verdadeiro: que o mistério e a ameaça das areias infinitas, o calor envolvente, a ausência da passagem do tempo, o silêncio, a inacessibilidade — tudo se faz luminoso embora seja mais qualquer coisa do que isso; é algo que nos põe a cismar, nos assombra quando fica claro, e acaba por desembocar na precisão, atingindo-nos para lá do que o seu desenho revela.
[Ellery Queen]