Benjamin Fondane: «O seu génio, como se tivesse pressa de se soltar, sobrevoa a idade, o tempo, a falta de experiência e — amadurecido não sei à luz de que sol de além-túmulo — explode e derrama-se.»
Em 15 de Abril de 1906 surgiu na revista Mercure de France o seu texto «O Duplo Rimbaud». Em cada um de nós, dirá Segalen, e para cada uma das nossas formas de pensar, de querer e sentir, existe um irredutível e não utilizável covil que não podemos, com complacência ou à força, com ódio ou amor, entreabrir aos outros. Estaremos perante um labirinto onde os leitores não encontram nenhuma saída? Segalen faz-nos crer que Rimbaud fala sempre de si próprio, com uma chave que só ele sabe utilizar; que os seus poemas são imaginadas memórias das coisas e dos dias da sua infância, e só ele os compreende na sua integralidade. Depois desta análise passa ao «segundo» Rimbaud, o de uma «curiosa e intensa fobia»; o que tem «horror à poesia», di-lo a sua irmã categórica e, por decisão, detentora de uma única e irrecusável verdade.
[Aníbal Fernandes]
Rimbaud foi outra coisa além de um cometa e mais do que um «assinalável transeunte». O seu génio, como se tivesse pressa de se soltar, sobrevoa a idade, o tempo, a falta de experiência e — amadurecido não sei à luz de que sol de além-túmulo — explode e derrama-se. O que espanta na sua obra não são tanto as virtudes do escritor, ainda assim fulgurantes, mas a espessura da página, a densidade do vivido, as riquezas do subsolo. O poeta desdobra-se, pluraliza-se; faz sobre todas as coisas «o salto do animal feroz». Estou por uma vez perfeitamente de acordo com a sua irmã Isabelle, ao descobrir sob a multiplicidade das personagens dos seus poemas o único rosto do Jean-Arthur e do escritor […]
[Benjamin Fondane]