Louis Parrot: «Um livro ofegante…
Uma força dramática intensa…
Não nos cansamos a todo o momento
De ficar maravilhados.»
Mas a França? A conquistada pelos Alemães do nazismo, a que vai interessar-nos neste surpreendente romance de Emmanuel Bove? Lembremos que as tropas de Hitler começaram a invadi-la a 10 de Maio de 1940. Perante a força alemã os exércitos francês, britânico e belga depuseram armas; e o governo francês cedeu, pedindo um Armistício assinado quarenta e quatro dias depois da invasão.
Esta França vencida sujeitou-se a uma complexa divisão do seu território com diferentes tipos de submissão ao poder nazi. As suas zonas do norte e do oeste foram ocupadas sem nenhuma camuflagem pelo Terceiro Reich; uma pequena zona do sudeste foi ocupada pela Itália de Mussolini; a zona central e a zona do sul tiveram a benévola designação de «zona livre», servida por um duvidoso poder francês dirigido em Vichy pelo marechal Pétain, simpatizante da causa nazi.
Neste romance de Bove a personagem principal, secretamente gaullista, deslocar-se-á entre Lião e Vichy, cidades da «zona livre», e voltará à capital ocupada pelos alemães; tudo para realizar o seu sonho: juntar-se ao general De Gaulle que organizava na Inglaterra um movimento armado resistente e fazia discursos que a rádio difundia, incitando os Franceses à revolta. E o seu «processo», sombreado pelo absurdo labirinto dos inquéritos, lembrar-nos-á inevitavelmente Josef K., a personagem de Kafka.
[…]
A guerra mobilizou-o em 1940 como trabalhador militar integrado numa fundição de Cher. Foi desmobilizado em Julho — por si próprio, com um certificado em que a sua própria assinatura o desmobiliza, como será explicado pela personagem (até certo ponto autobiográfica) de A Armadilha. O sonho de Londres tinha-o levado até Argel mas o paludismo devolveu-o à França de Outubro de 1944, a França libertada, a de uma recuperada situação política que já permitia a publicação de A Armadilha, o seu melhor romance, posto à venda em Abril de 1945, na véspera do seu aniversário, dois meses antes da sua morte.
[Aníbal Fernandes]