«Só existe um modo de exprimir uma coisa, uma só palavra para dizê-la, um só adjectivo para qualificá-la e um só verbo para animá-la» — disse Flaubert a Maupassant, e ele cumpriu-o bem melhor do que o seu mestre.
É fácil, num escritor que deixou publicadas três centenas de contos e narrativas breves, organizar grupos dominados por um tema específico, um género literário, uma qualquer maneira de compreender os homens que ele mais de perto conheceu. E se a escolha preferiu aqui seis histórias onde a prostituição feminina intervém com decisivo papel, deve-se ao facto de pertencerem a este «grupo» três textos entre os mais prestigiados do autor: Mademoiselle Fifi, A Casa Tellier, Bola de Sebo; e deve-se ainda à circunstância, não menos importante, de o próprio autor durante a sua vida adulta ter sido um exacerbado sensual, um coleccionador de trezentas amantes — como ele se classificou — de ter morrido precocemente, vitimado por um mal adquirido em noites de delírio, entregue sem temores à promiscuidade dos bordéis de Paris.
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Guy de Maupassant, com uma vida de apenas quarenta e três anos, ficou com representação larga na literatura francesa. As suas três centenas de contos e novelas são hoje constantemente reeditadas, bem mais do que os livros de outros contemporâneos seus que tantos defeitos lhe encontraram, que ao sabor de uma tão persistente má vontade o censuraram; e têm a companhia de seis romances, dois deles — Une vie (1883) e Bel-Ami (1885) — que podem considerar-se de uma essencial representação entre os exemplos mais marcantes do naturalismo então liderado pela altiva superioridade do «mestre» Émile Zola.
Alberto Savinio, autor de um nada benevolente e muito injusto Maupassant e «l’Altro», faz na sua diatribe uma descoberta inquestionável: «A vida de Maupassant parece-se, ela própria, com uma novela à Maupassant.»
[Aníbal Fernandes]