José Manuel dos Santos: «Seguindo-lhe o exemplo com Álvaro de Campos, este livro louva e simplifica Mário Cesariny, porque não há louvor nosso a ele que não seja simplificação dele a nós.»
O vulto vivo e visível de Mário Cesariny atravessa este livro como atravessou a vida que ele viveu com perigo e fulgor. A sua figura percorreu também a vida de todos aqueles que o olharam com intensidade e espanto. Esses reconheceram no seu olhar uma grande razão que exige o amor, a liberdade e a poesia que tornam o mundo mais habitável e a respiração livre e aberta a um oxigénio mais puro.
No que escreveu e no que pintou, Cesariny fez da sua vida um ímpeto implacável, poético, contra os poderes da morte sobre a vida e contra o domínio do estreitamento do mundo sobre a sua vastidão.
Seguindo-lhe o exemplo com Álvaro de Campos, este livro louva e simplifica Mário Cesariny, porque não há louvor nosso a ele que não seja simplificação dele a nós.
O que escrito por mim neste livro se publica fala do poeta, do pintor e do amigo — três pessoas numa só. Às vezes, as minhas palavras encontram as suas palavras, assim o baixo da montanha se eleva e engrandece no seu cume.
Esses textos são ora seguidos, ora guiados pelas imagens que nos trazem Cesariny com a sua altura, feita de lucidez e imaginação, curiosidade e criação, amargura e encantamento. Vemos a nitidez ardente destas imagens e agradecemos a arte dos fotógrafos que deram ao instante de um gesto a sua desconhecida eternidade.
Entre a primeira e a última página deste livro-tributo está o grande poeta-mago-autor do Manual de Prestidigitação em corpo e alma, em figura e símbolo, em vestígio e evidência.
Isto é: está Mário Cesariny à nossa espera e estamos nós à espera dele. É nesse encontro que o fazemos nosso, sabendo, afinal, que ele será sempre, como o Zaratustra de Nietzsche, de todos e de ninguém.
[José Manuel dos Santos]
Fotografias de Duarte Belo, Eduardo Tomé, Luís Pavão e Nuno Félix da Costa.
Com a Fundação Cupertino de Miranda.