Manuela Parreira da Silva: «Arte e Guerra poderia mesmo ser um título alternativo. Contudo, o facto de o tempo do conflito mundial coincidir com o da emergência e da consolidação, entre nós, do chamado primeiro Modernismo, levou-me a colocar o foco de análise no campo mais estrito da arte (literatura, pintura, música) da geração de Orpheu.»
Constitui objectivo primeiro desta obra analisar e discutir a forma como os modernistas portugueses — poetas, prosadores, pintores, músicos — incorporaram a experiência da Primeira Guerra Mundial; como se posicionaram — cada um à sua maneira: fugindo do perigo e refugiando-se em Portugal ou voluntariando-se para a frente de combate; tomando partido por um ou por outro lado das forças em conflito; reflectindo, pintando ou escrevendo sobre o tema —, face à devastação e morte nas trincheiras e cidades da Europa, mas também ao aceso debate político interno e às manobras de bastidores. Em contraponto, procura ainda esta obra mostrar como o chamado movimento modernista, amplo movimento de ruptura, nascido de um mesmo impulso bélico para o confronto e para a edificação de um mundo novo, se envolveu, contra conservadores e detractores, numa outra guerra, metafórica, igualmente violenta e, acima de tudo, transformadora, no campo das artes, da literatura em particular.
O primeiro ensaio, «As faces da guerra», apresenta um carácter introdutório, procurando fazer um levantamento das principais facetas que a Guerra de 14-18 tomou, vistas na sua relação biunívoca com as correntes de pensamento e de praxis literário-artística. Os dois seguintes, «Fogo cruzado» e «O olhar d’A Águia», procuram reflectir sobre o combate globalmente travado entre os «orfeicos» e os seus antagonistas (do ponto de vista ideológico e literário), configurando, por assim dizer, uma outra guerra (metafórica). Os restantes sete ensaios centram-se particularmente nos principais modernistas, cujas obras de alguma maneira expressam opiniões sobre a guerra, denunciam e espelham a sua influência, ou simplesmente aparentam ignorá-la.
[Manuela Parreira da Silva]