O riso vermelho é o de todos os mutilados,
o de todos os corpos rasgados…
que se espalha pelo céu, pelo sol,
e derrama sobre toda a terra.
O Riso Vermelho surge como sucessão de fragmentos de um manuscrito; saído, na aparência, da pena de dois autores irmãos, mas que acabamos por perceber que se trata apenas de um deles, com uma primeira parte que imagina a experiência de guerra do irmão já morto, a partir das memórias que as suas emocionadas descrições lhe deixaram, com uma segunda que relata a sua própria experiência perante as consequências apocalípticas da guerra — em si e em tudo aquilo que o rodeia.
[…]
Andreiev afirmou que esta novela lhe foi inspirada por gravuras de Goya. Chegou a imaginar uma edição ilustrada por essas gravuras; pintou com grande dimensão algumas delas, que tinha expostas nas paredes do seu escritório. Mas os seus excessos visionários desviam-se do humor sarcástico de Goya; Andreiev é amargo e militantemente austero, sempre afastado do horror satírico que o pintor espanhol nunca abandonou nos mais negros momentos da sua imaginação.
[…]
Andreiev foi durante a sua vida um apaixonado pela fotografia, atento aos maiores avanços técnicos que houve no seu tempo neste domínio. Há no seu espólio centenas de chapas e máquinas fotográficas de fabrico alemão e francês, e foi pioneiro na fotografia a cores. Gostando, como gostava, fisicamente de si, prolongou no tempo a sua imagem deixando à posteridade um grande número de auto-retratos. São todos de um rosto mais ou menos melancólico e sobrecarregado na expressão por um qualquer martírio interior; reflecte em quase todos, assumindo como seu, o que imaginamos para muitas das atormentadas personagens dos seus livros.
[Aníbal Fernandes]