Na casa da janela partida, tiro a terra das meias e das botas.
Alguém entra no andar de cima.
Faço silêncio.
À mesa recordo a conversa com todos os que morreram.
Acordo.
Cambalhota, queda para trás, gancho de pés na corda. Os pés falham as cordas e as pontas dos dedos das mãos amparam a queda. A cabeça recolhe, a cervical bate no colchão, ouço o barulho de ossos a partir. O corpo desliga. O corpo levita. As pernas flutuam, os braços mexem e eu não sinto nada.
Estou a arder. Doem-me os ombros. Sinto as clavículas coladas ao pescoço e as articulações em curto-circuito. Queimam-me.
Diana Niepce (1985) é bailarina, coreógrafa e escritora. Formou-se na Escola Superior de Dança (Lisboa), fez Erasmus na Teatterikorkeakoulun (Helsínquia), uma pós-graduação em Arte e Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, completou a formação CGPAE do Forum Dança e é também professora habilitada de hatha yoga.
É criadora da peça de circo contemporâneo Forgotten Fog (2015) e das peças de dança Raw a Nude (2019), 12 979 Dias (2019), Dueto (2020) e Duetos (2020). Enquanto bailarina e performer colaborou com o Bal Moderne | Rosas, Felix Ruckert, Willi Dorner, Antonio Tagliarini, Daria Deflorian, La Fura dels Baus, May Joseph, Sofia Varino, Miira Sippola, Jérôme Bel, Ana Borralho e João Galante, Ana Rita Barata e Pedro Sena Nunes, Mariana Tengner Barros, Rui Catalão, Rafael Alvarez, Adam Benjamin, Diana de Sousa e Justyna Wielgus. Fez direcção artística e foi docente na Formação de Introdução às Artes Performativas para Artistas com Deficiência na Biblioteca de Marvila — CML (2020).
Publicou um artigo no livro Anne Teresa de Keersmaeker em Lisboa (ed. EGEAC / INCM), o conto infantil Bayadère (ed. CNB), o poema «2014» na revista Flanzine e o artigo «Experimentar o corpo» no jornal de artes performativas Coreia. Foi jurada do prémio Acesso Cultura 2018 e do Festival InShadow 2018.
Com o Teatro Praga. Colecção «Série».
1.ª edição: Abril de 2022; 2.ª edição: Julho de 2022