«O poeta da Pré-História», chamaram-lhe.
A bravia idade do homem.
Quando o Fogo era o poder.
Conheciam enfim o Fogo — a mais terrível e doce das coisas vivas — suficientemente forte para destruir toda uma savana e toda uma floresta com os seus mamutes, rinocerontes, leões, tigres, ursos, auroques e uros. Naoh fora desde sempre fascinado pela vida do Fogo. Tinha, como os animais, necessidade de uma presa; alimentava-se com ramos, ervas secas, gordura; e acrescentava-se. Cada Fogo nasce de outros Fogos; todos os Fogos podem morrer. Mas a dimensão de um Fogo é ilimitada embora se deixe, por outro lado, separar em intermináveis bocados, podendo cada um dos seus pedaços viver. Decresce quando o privam de alimento; faz-se tão pequeno como uma abelha, uma mosca, e pode no entanto renascer ao longo de um talo de erva e tornar-se vasto como um pântano. É e não é um animal. Não tem patas nem corpo rastejante mas adianta-se aos antílopes; voa sem asas nas nuvens; não tem garganta e sopra, rosna, ruge; sem mãos nem garras apodera-se por completo da vastidão… Naoh amava-o, detestava-o e temia-o.
[J.-H. Rosny Aîné]