Nenhum deles desejou que fosse uma amizade literária. O que a define é uma alta camaradagem marcada, muito ao contrário, pelo desejo de aventura e de magia com que Alberto e Cesariny sempre quiseram viver.
Livro publicado por ocasião dos IX Encontros Mário Cesariny realizados na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, de 26 a 28 de Novembro de 2015.
«Conduzido pelo Alberto [de Lacerda] o Mário [Cesariny] conheceu poetas, escritores, gente ligada ao mundo da cultura, andou pelas galerias do West End, bisbilhotou livrarias e cultivou amizades. Entre os amigos londrinos mais estimados figurava Paula Rego. Mas será erro pensar que a relação entre os dois, Alberto e Mário, se confinou à experiência de uma Londres que, durante um certo tempo, partilharam, mas que viveram tão diferentemente. Onde o Mário navegava como um nauta em mares distantes, Alberto estava possuído dos mistérios da cidade. Outros interesses os aproximavam. O prazer da descoberta, e amigos que cultivavam fora de Londres também, noutras paragens: os casais Vieira e Arpad, e Octavio e Marie Jo Paz, para citar só dois exemplos. E livros, é claro, e quadros, e Lisboa, e a poesia. Sempre, sempre, a poesia. De tudo isso há registos nas «recordações» que o Alberto foi guardando do seu amigo Mário Cesariny. Recordações que são cartas, fotografias, obras de arte, folhas volantes, recortes de jornal. […] O que há para descobrir de Cesariny no mundo íntimo de Alberto de Lacerda excede em muito os contornos deste livro. Mas nesse mundo e sempre nos dois sentidos, resplendem admiração e amizade que o tempo nunca deixou de sustentar. Nenhum deles desejou que fosse uma amizade literária. O que a define é uma alta camaradagem marcada, muito ao contrário, pelo desejo de aventura e de magia com que Alberto e Cesariny sempre quiseram viver.»
[Luís Amorim de Sousa]
Meu querido Londrino
Gosto muito do seu poema, forma, ou mais força que forma, embora forma também, ou sobretudo — isto, assim, nunca mais acaba e a caneta é nova e é péssima. O que eu queria dizer é que este poema é muito parecido consigo, espécie de relação nove-dez de si com o mundo ou dele com a poesia. Se é uma série mande mais, se não é série, mande outros. Para lhe descrever o meu estado de espírito de há meses teria de ir procurar algumas formas espanholas, mas antes do século de oiro, do terror, do frio, e da solidão. Soledad.
[Mário Cesariny]