Uma experiência íntima da vivência da natureza, uma experiência do despojamento e do tempo.
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Margarida Lagarto: Das Sombras do Verão, do Dia e da Noite», com curadoria de Filipa Oliveira e Manuel Costa Cabral, que teve lugar no Fórum Eugénio de Almeida, em Évora, entre 6 de Maio e 2 de Julho 2017, realizada em parceria com a Fundação Carmona e Costa.
Já tinha passado naquele jardim centenas de vezes, mas as suas sombras ainda não lhe tinham cativado o olhar. Durante o passeio fixou-as nessas tais folhas. Fascinada com o resultado do exercício voltou ao jardim, desta vez sozinha. Descobriu um velho muro onde várias árvores projectavam as sombras intermitentes das suas folhagens.
O muro branco, gasto pelo tempo, tornou-se o seu caderno, e Margarida Lagarto visitou-o incessantemente a diferentes horas do dia, durante meses e meses. Sentava-se e olhava-o, fotografava-o e filmava-o. Mas não o desenhava, não ali. As visitas ao muro tornaram-se quase uma obsessão. Era preciso vê-lo todos os dias. Como estariam as sombras hoje? Haveria sombras neste dia quase sem sol? Ou neste outro em que ele é excessivo? E hoje com o céu tão enublado? Ou com tanto vento?
O muro tinha-se transformado num ecrã que acolhia formas e movimentos. […]
Nesta série, Margarida Lagarto não desenha as árvores, nem o muro, mas maioritariamente as sombras projectadas. Desenha o desaparecimento, o vazio. Desenha algo que é uma ausência – de luz, de materialidade – e dá-lhe um corpo. Desenha a impermanência, tão própria da natureza como também do ser humano. Essa procura pelo imaterial é o seu sentido do sensível. É no silêncio das sombras que Margarida Lagarto encontra um quotidiano sublime. [Filipa Oliveira e Manuel Costa Cabral]
Texto de Filipa Oliveira e Manuel Costa Cabral.
Com a Fundação Carmona e Costa e a Fundação Eugénio de Almeida.
Edição bilingue: português-inglês.