Ana Paula Amendoeira: «O saber acumulado que existe no Alentejo, na área dos lanifícios e da arte têxtil, representa um potencial enorme para a criação, produção e transferência de conhecimento, contribuindo objetivamente para assegurar futuro a esta atividade.»
Recordo o episódio da Odisseia no qual Penélope adia sucessivamente o seu casamento com um dos pretendentes ao lugar de Ulisses, com a desculpa de que tem de terminar primeiro uma peça tecida, na realidade a mortalha para o sogro, Laertes.
Para além de todas as interpretações que o expediente possa suscitar, ele chama a atenção para um fator sempre presente na história da arte têxtil: o tempo.
Por ser uma tecnologia imemorial ligada à adaptação e sobrevivência da espécie humana na natureza, ao lar (oikos), aos dispositivos ligados à caça e à pesca; por ser uma superfície meticulosa, prévia e pacientemente executada ponto a ponto, a confeção têxtil acarreta a ideia do planeamento e da extensão no tempo, o contrário da urgência e do oportunismo históricos.
Como interpretar então a significativa presença que esta forma de arte tem assumido nos últimos anos, comprovada pela sua presença nos grandes fora artísticos mundiais? Como se conjuga o contemporâneo com o intemporal? […]
O Ponto concentrou-se por isso também na história e na tradição do têxtil: a perenidade e futuro do fenómeno Arraiolos e do têxtil no Alentejo; mas também na sua presença entre os mais profícuos criadores internacionais; nas combinatórias entre o têxtil e as mais recentes formas artísticas e tecnológicas, nomeadamente o digital.
[Filipe Rocha da Silva]
Com o apoio da Câmara Municipal de Arraiolos, Direcção Regional de Cultura do Alentejo, Universidade de Évora e outras entidades.