Entrevistador: A arte pode ser ensinada?
Phyllida Barlow: Não, mas (…).
O leitor curioso em conhecer a resposta de Phyllida Barlow, artista britânica e ex-professora na Slade School of Fine Art, poderá passar directamente para a página 35. Contudo, e porque — pese embora o tom assertivo deste livro — temos agora mais dúvidas sobre o ensino da arte do que quando o começámos a escrever, pareceu-nos importante sublinhar dois aspectos: o de que a arte não se ensina e o de que, ainda assim, é possível a um aluno aprender algo numa escola de artes.
A natureza deste algo é difícil de especificar, dado que ninguém parece saber exactamente como se devem ensinar os artistas, sendo complicado encontrar regras predefinidas ou técnicas que se perpetuem ao longo dos anos (até porque o facto de uma escola de artes ter desempenhado um papel importante num dado tempo raramente significa que o mantenha). Todavia, à medida que fomos lendo e conversando com artistas, percebemos que existe um certo número de características importantes numa escola de artes, pelo que, apesar das dúvidas que fomos tendo, nos pareceu útil propor uma hipótese de Escola Ideal.
Sabemos que uma escola de artes que não se repensa, que não improvisa, que não convida pessoas diferentes para conversar com os seus alunos, que protege uma estrutura virada para o passado não procurando imaginar o presente, será sempre uma escola pobre. Sugerimos que, mais do que ser definida por um espaço ou pela entidade que a tutela, uma boa escola de artes pode existir em qualquer sítio desde que nela se cumpram algumas condições, tais como: 1) ter dotação orçamental própria e autonomia financeira e administrativa; 2) ser pensada pelos artistas que nela leccionam, que desenvolvem uma prática e que gostam de ensinar; 3) ter os meios técnicos necessários para concretizar o seu programa; 4) cativar os alunos certos; e 5) conseguir dar-lhes liberdade de escolha no seu percurso.
Com o Teatro Praga (colecção «Sequência»).